Sete Lágrimas de um Preto-Velho
num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo,
um triste Preto-Velho chorava.
De seus olhos molhados, esquisitas
lágrimas desciam-lhe pelas fa-ces e
não sei porque contei-as... Foram sete.
Na incontida vontade de saber aproximei-me
e o interroguei.
Fala,
meu Preto-Velho,
diz ao teu filho por que externas assim
uma tão visível dor?
E ele, suavemente respondeu:
Estás vendo
esta multidão que entra e sai?
As lágrimas contadas estão distribuídas a
cada uma delas.
A primeira,
eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração,
para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofus-cadas não
podem conceber…
A segunda a
esses eternos duvidosos que acreditam, desacre-ditando, na
expectativa de um milagre que seus próprios mereci-mentos negam.
A terceira,
distribui aos maus, aqueles que somente procuram
a UMBANDA,
em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.
A quarta,
aos
frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e
procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhe-cem a
palavra gratidão.
A quinta,
chega suave,
tem o riso, o elogio da flor dos lábios mas se
olharem bem o seu semblante, verão escrito:
Creio na UMBANDA,
nos teus caboclos e no teu Zambi,
mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.
A sexta,
eu dei aos fúteis
que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e
conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.
A sétima,
filho notas como foi grande e como deslizou pesada?
Foi a última
lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás.
Fiz doação dessa aos
Médiuns vaidosos, que só aparecem no
Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.
Esquecem que existem
tantos irmãos precisando de amparo mate-rial e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos,
que viste cair, uma a uma.
Pub 2016