Raiva!
É esta raiva,
(Que não me deixa descanso
E consome fundo),
Que calada, pé ante pé,
Me leva a vontade
Para onde já não a alcanço.
Raiva!
Ó amor esquecido!
E é nesta defesa
(Há tanto tempo estabelecida
Por entre palavras e falsas conjecturas),
Que nasce o meu desdém
Pelo teu toque sereno, que me deixa quedo
Por sobre o plano da mesa.
Raiva!
E eu grito raiva -
Querendo exaltar o amor?
Raiva;
Porque me falta a coragem!
E esta armadura que me magoa
Não é peça de artesanato
Parada e muda a um canto poeirento;
É carne abusada e estropiada,
São nervos que me são superiores,
“Gritando” como que por uma outra
Libertação!
“Aí, raiva!”
Por não ter raiva suficiente;
E olhar para isto tudo
Com uma indiferença inquietante.
Mas se eu pudesse...
Se eu pudesse chamaria o amor;
Se eu pudesse seria
Uma pessoa normal;
Com tudo o que há de normal
Em ser-se feliz
E pobre de espírito!
Seria feliz e casava;
E seria feliz por ter a carne
Da minha própria carne:
E por ter uma profissão;
E à noite, sentado
No meu harém caseiro,
Sentir-me-ia realizado por tão pouco!
Ah, não acreditem no que escrevo!
Raiva! ter raiva desgasta;
Ter amor! é-me um esforço
Que não quero;
Ser feliz é contrariar a sorte.
E ser normal, como tudo tão igual
É uma náusea que dispenso!
“Ah! raiva! para isto tudo!
E p’ra esta coisa a quem chamam de vida!”
Bip-bip-bip-bip _ Interjeição!!!
“Mas, ah, se eu retivesse em minhas mãos,
todos os meus intentos nocturnos...
Se eu me detivesse...!”
…Outra vez, esta melancolia
De dias talvez felizes
Me vem à lembrança;
…Outra vez, este romantismo
Da criança que já fui,
Me invade;
E dentro destas quatro paredes,
De “azul-agressivo” pintadas,
Há vidas efêmeras
Como golpes fracos de asas!
Seco… seco… seco...
Frio… frio… frio...
“Isto para nada me serve”!
Isto...
…Ó tormentos!!!
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 03/05/2012 - 21:29hs
*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com
a antiga ortografia.