Cruzeiro, que
poderia ser
do amor... Da vida...
Da ilusão...
És, simplesmente, do Sul.
Seu olhar
cintilante sempre
me acompanhou,
nas solitárias noites do mar...
Nas lembranças
perdidas dos
amores que ficavam para trás...
Na branca espuma, morta, pelo
profundo passar do navio.
Frio, apontas
sempre o Sul...
Mas outro era o meu rumo.
Da aventura,
do martírio das gélidas noites,
açoitado pelas tempestades.
Do prazer sempre
encontrado
nos perdidos portos da vida...
Hoje, da minha
janela, te acompanho...
Despido do medo, das angústias.
Dos amores que
morriam ao amanhecer...
No delírio das músicas. Com o sorriso ébrio
que se acoitava na penumbra das noites em
busca de lábios aventureiros.
Às vezes
verdadeiros...
Corpos alugados,
valorizados no prazer...
Recompensados...
Ilusões?
Apenas caminhos
diferentes.
Inconsequentes.
Hoje nos olhamos
com outros olhos...
Tu, continuas apontando o Sul.
Eu, pelo pedaço de céu que me restou,
te observo, já resignado...
Meu rumo agora é
triste, vazio...
No silêncio da madrugada penso
em como seria bom recuperar
o sentido primário da vida...
Velhos amores.
Mesmo vestidos de ilusão.
O frio, agora é
diferente.
Chega com a solidão e envolve
este desfalecido corpo.
O tempo,
devagarzinho, também
se vai...
Busca corpos
mais jovens,
inexperientes...
Que não se preocupem com ele,
apenas o deixem passar...
Velha
constelação.
Por quê este olhar tão triste?
É a figura da cruz que carregas,
ou são meus olhos...
Também tu segues
o caminho
do ocaso...
Mas amanhã retornas, escrava
também da celestial vida.
Quem restará
mais feliz.
Eu que um dia me vou ou tu
que tens que voltar sempre,
mesmo contra a tua vontade?
E sempre
apontando o Sul...
Somente o Sul...
Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 22/01/2006
|