FOLHAS SECAS

 

Ana Kilesse

 

Pela fresta da porta

O vento entrou assoviando

Como uma trombeta anunciando

A chegada do outono

Folhas amareladas, secas,

Sinal que o verão por ali passou

Caiam bailando na despedida

Da estação que se foi

Outras resistentes

Presas aos galhos das árvores

Agarravam-se como numa última esperança

De um tempo mais longo

De sobrevivência

Mas impiedoso o tempo

Aguardava o último suspiro

Um tapete de folhas secas

Foi se formando no chão

O vento continuando sua trajetória

Ignorava o fato

Folhas amigas que nos deram sombra

No sol escaldante

Hoje seguem seu curso

Amontoadas pelo vento

Em algum lugar...

Como nos que secamos

Envelhecendo órgãos

Pele deste corpo

Que um dia foi viçoso

Como folhas novas cheias de vida

Também lutamos contra este tempo implacável

Que nada perdoa

Nesta trajetória de vida a ser cumprida

Com tempo marcado

Não adianta lutar contra as leis da natureza

Que nos presenteiam

Mas cobram atitudes que nos foram dadas

Pelos anos vividos

Com justificar nossa existência

Se não tivermos dado frutos

Mostrando que houve vida

Durante o tempo que nos foi ofertado.

 



Fundo Musical: Adoro - Enrique Chia