Quando o pai voltava do trabalho, o garotinho corria
com os braços abertos em busca de um abraço aconchegante.
Mas, o pai, acostumado à educação rígida e equivocada
do início do século vinte, ia logo dizendo: “homem não
abraça homem”.
O menino ficava sem saber o que fazer com a vontade de
demonstrar seu afeto e carinho àquele a quem amava e admirava.
Isso lhe causava extremo desconforto, mas foi se
acostumando a não abraçar o pai, e nem chorar, pois “homens
não choram”, segundo a mesma educação que recebia.
Sempre que algo o infelicitava, prendia o choro na
garganta e corria para os braços da mãezinha dedicada, a quem podia abraçar
sem medo de ser menos homem.
Esse conceito ancestral, infelizmente, ainda é muito
comum nos dias de hoje.
Muitos filhos homens não se sentem à vontade para
abraçar seus pais e, menos ainda, para beijá-los.
Aquele garoto, que agora já está com mais de 75 anos
de idade, conta que foi muito difícil conviver com a dificuldade de
extravasar seus sentimentos com quem quer que fosse.
Não conseguia abraçar os amigos, não conseguia chorar
graças às ori-entações que recebera na infância.
Diz ele, que só conseguiu vencer essa barreira, com
muito esforço, há pouco tempo.
Hoje ele consegue se entregar num abraço sem medo de
ser feliz. Mas chorar em público é algo que procura evitar, pois a frase
ouvida muitas vezes na infância, ainda o persegue: “homens
não choram”.
Mas a lógica nos diz que os homens também podem e
devem chorar, sem que isso os diminua como homens.
Homens que se privam de extravasar suas dores e
tristezas pelas lá-grimas, geralmente arrebentam o coração em enfartes
fulminantes.
O que faz um ser humano ser digno não é o fato de
deixar de chorar, ou de evitar se envolver num abraço. O que dá dignidade a
um ho-mem é a sua capacidade de amar, de se entregar, de se deixar levar
pela emoção sadia.
O cancioneiro popular, Gonzaguinha, retratou, através
da música guerreiro menino, essa realidade:
Um homem também chora...
Também deseja colo... Palavras amenas
Precisa de carinho, precisa de ternura
Precisa de um abraço da própria candura
Guerreiros são pessoas, são fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos no fundo do peito
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho que os torne refeitos
É triste ver este homem guerreiro menino,
com a barra de seu tempo por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra, eu vejo que ele sangra a dor
que traz no peito, pois ama e ama
Um homem se humilha, se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida, e a vida é o trabalho
E sem o seu trabalho um homem não tem honra
E sem a sua honra, se morre, se mata.
Pense nisso!
Hombridade não é sinônimo de dureza.
O homem é um espírito temporariamente mergulhado num
corpo masculino, mas é um filho de Deus como outro qualquer.
Um homem também chora...
Um homem também sente saudade...
Um homem também se entristece quando parte um ser
querido..
Um homem também se equivoca, também de arrepende,
também se sente só muitas vezes.
E, às vezes, a única maneira de aliviar um pouco o
peito oprimido é deixar que as lágrimas jorrem com vontade.
Paulo de Tarso, o incomparável apóstolo, na luta para
vencer-se a si mesmo, encontrava nas lágrimas uma forma de desabafo.
Aquele gigante do cristianismo deixava, nas horas
difíceis, as lágrimas aliviarem seu coração oprimido.
“A cada gota de pranto era um
pouco de fel que expungia da alma, renovando-lhe as sensações de
tranquilidade e de alívio.”
Jesus, o maior Homem de que se tem notícia, também
chorou.
Pense nisso, e se sentir vontade ou necessidade, abra
as comportas do peito e deixe que as lágrimas lavem e aliviem seu coração,
sem medo de ser feliz.