A fruta pende no pé,
tombando os galhos das laranjeiras,
o cheiro se espalha ao pomar,
aroma na casa inteira...
Um terreiro grande! Ali secava
o café.
Com as histórias de onde arrancava o
tio Zé?
Lua lampião clareava o chão,
entre alguns vagalumes...
Criança escutava as histórias
contadas pela noite em negrume.
Se lá vinha um café
para o pito do Zé, um cigarro
de palha...
Com um cheirinho gostoso!
Um cochilo manhoso a criança embala.
Ao pé da porta um cãozinho,
num degrau de vermelhão...
Balançava atento o rabinho,
escondendo o focinho entre as mãos.
Um pote de barro,
com água de gosto...
Daquelas que vem fresquinhas,
do fundinho do poço.
Broinha de fubá,
sobre a mesa bordadinha...
Quitutes que tinham por lá,
vindos da nossa madrinha!
Um sapo cururu
que habitava o jardim...
O sereno que dormia nos gramados
e jardins!
Era um sítio...
Cabocla nossas almas,
nossa infância,
os compromissos!
De tocar o gado,
abanar café,
de colher o milho,
De andar a pé...
Nas trilhas daquele tempo,
serpenteando a plantação!
De encher o balaio com as coisas
do chão.
Ensacar o arroz, o feijão...
Tinha um boi carreiro,
um bonito alazão,
pendurado um violão!
Uma roça perfumada de melão,
uma casa avarandada
Onde se via toda estrada de chão...
Nossa alma cabocla!
Bebia em canecas de louça a
felicidade,
em chaleiras de alumínio a liberdade...
Assava o amor no forno a lenha,
alma que cabocla ainda trago,
dentro de mim qual forno de barro...
Cabocla, sem idade,
apenas o tempo caboclo morreria!
Era um sítio...
onde havia um ribeirão!
A gente era criança...
Era uma vez uma infância.
Tempo livre, tempo bom!
José Geraldo
Martinez
Araçatuba - SP
https://www.josegeraldomartinez.hpg.ig.com.br
Tempo melhor que vivi,
rósea infância da minha vida!
Morando na cidade grande,
e nutrindo amor pelo sertão...
Quando as férias chegavam,
minha transformação era total.
Com que prazer, arrumava minha mala,
dentro do melhor vestido,
para estação do trem eu rumava.
Lá seguia, por quatro horas de viagem,
enfim ao meu destino chegava.
Lembro-me bem, da minha avó querida,
seu nome era Victória!
Alta, forte, olhos verdes.
Que alegria, ela sentia ao ver-me chegar...
Naquela cozinha simples,
fogão à lenha, várias panelas de barro fumegavam...
O aroma do frango ensopado,
para acompanhar a polenta,
que eu tanto gostava!
Inconfundível seu tempero...
O cheiro de vinho no ar,
Que as uvas exalavam,
dos enormes parreirais.
O dia seguia lento...
E lá, vinha minha avó, trazendo
frutas, leite, queijo,
doce de manga, figo
laranja, mamão e marmelo...
À noite sentada no quintal,
minha avó mostra-me estrelas.
Algumas tem nomes, dizia-me ela,
três Marias, Plêiades, estrela D'alva,
que você só verá ao amanhecer.
E quando o sono chegava,
repousava a cabeça, no travesseiro
macio de pena de ganso...
Roupa da cama, cheirava alfazema!
Enquanto eu não dormia,
ficava olhando as lagartixas,
que passeavam, pelos caibros,
do humilde telhado.
Ás vezes pedia à ela
Que as retirasse dali...
Eu sentia medo!
Sorrindo, então me respondia,
filha, os bichos precisam se alimentar.
Para crescerem, bonito e fortes.
Assim... como você...
Nunca lhe farão mal!
Se você, com eles não mexer...
E assim, sendo acariciada por suas mãos,
ouvindo o tic-tac do carrilhão
Feliz eu adormecia...
Nadir A.
D'Onofrio
Santos - SP - 07/06/2005
https://www.nadirdonofrio.com
Fundo Musical: Piano
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