Para a orquestra. Termina o espetáculo! Aplausos barulhentos. Saberiam eles, de minha dor aqui dentro? Teatro abandonado, papéis jogados. Luzes apagadas, como se de mim, quisesse nada! Camarim me espera para um cansado cotidiano. Instrumental parado. Mudos, largados! Porque ? Se de mim é o desengano! Batuta esquecida, nas partituras, lidas, tão comum. Como as dores escondidas no peito de cada um! E as minhas a quem mostrar? Restou-me o violino que toco sem parar. Por certo me escutam os ratos em seus buracos. Os pombos dormindo no telhado? O fantasma da ópera? A tristeza que emerge das cadeiras vazias. Minha sombra arredia? Que na morna luz do palco, faz-me companhia? Pergunto-te solidão. Quem me escutaria? Mozart, Beethoven, Chopin? Almas, que de só, morreram... Vou morrer assim? A madrugada me escuta, por todos estes anos. Se cansou enfim! Ou eu dela? Preso em mim! Os insetos na velha lâmpada. O cheiro mofo das cortinas? O velho palco é como o meu coração. quase em ruína! Me sobraria pelo menos um cão? Fiel escudeiro. Ou nem ele um vira-lata, escutaria meus apelos? Quando as cortinas se abrem em pomposa noite de gala.... Rege ali um idiota a dor que cala! Deito o rosto no violino. fecho os olhos. E quem me escuta, senão ele... O choro solo! Rompe a noite, quase dia. Em breve, luzes e gente. Barulhentos aplausos! No final, quem me escutaria? Senão o violino que recebe meu rosto. Como se toda dor de amor. Fosse só minha! Como se todo maestro tivesse que ser triste. E de escrever assim, viveria! Emocionando multidões. em sinfonias! Teria que sangrar em público minha alma? Ou nem assim me escutariam? Ou como todos, após morte. Minha vida escreveriam? Se fosse eu um Mozart, um Beethoven, talvez! Escreveriam que tive um amor escondido? Proibido? Que por ele me acabei? Filhos, muitos, distribuídos. Boêmio inveterado? Sonhador? Por muitas vezes casado? Que a pobreza lhe sobrou de resto? É sempre assim... O que haveriam de falar de um maestro? Senão deste fim. Se fosse um grande? Escreveriam! Pequeno que sou. Me esqueceriam!
José Geraldo
Martinez
Nadir A.
D'Onofrio
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