Pergunto-te! - José Geraldo Martinez

Para a orquestra.
Termina o espetáculo!
Aplausos barulhentos.
Saberiam eles, de minha dor aqui dentro?
Teatro abandonado,
papéis jogados.
Luzes apagadas,
como se de mim, quisesse nada!
Camarim me espera para um cansado cotidiano.
Instrumental parado.
Mudos, largados!
Porque ? Se de mim é o desengano!
Batuta esquecida,
nas partituras, lidas, tão comum.
Como as dores escondidas
no peito de cada um!
E as minhas a quem mostrar?
Restou-me o violino que toco sem parar.
Por certo me escutam os ratos em seus buracos.
Os pombos dormindo no telhado?
O fantasma da ópera?
A tristeza que emerge das cadeiras vazias.
Minha sombra arredia?
Que na morna luz do palco,
faz-me companhia?
Pergunto-te solidão.
Quem me escutaria?
Mozart, Beethoven, Chopin?
Almas, que de só, morreram...
Vou morrer assim?
A madrugada me escuta,
por todos estes anos.
Se cansou enfim!
Ou eu dela? Preso em mim!
Os insetos na velha lâmpada.
O cheiro mofo das cortinas?
O velho palco é como o meu coração.
quase em ruína!
Me sobraria pelo menos um cão?
Fiel escudeiro.
Ou nem ele um vira-lata,
escutaria meus apelos?
Quando as cortinas se abrem
em pomposa noite de gala....
Rege ali um idiota a dor
que cala!
Deito o rosto no violino.
fecho os olhos.
E quem me escuta, senão ele...
O choro solo!
Rompe a noite, quase dia.
Em breve, luzes e gente.
Barulhentos aplausos!
No final, quem me escutaria?
Senão o violino que
recebe meu rosto.
Como se toda dor de amor.
Fosse só minha!
Como se todo maestro
tivesse que ser triste.
E de escrever assim, viveria!
Emocionando multidões.
em sinfonias!
Teria que sangrar em
público minha alma?
Ou nem assim me escutariam?
Ou como todos, após morte.
Minha vida escreveriam?
Se fosse eu um Mozart,
um Beethoven, talvez!
Escreveriam que tive um
amor escondido?
Proibido?
Que por ele me acabei?
Filhos, muitos, distribuídos.
Boêmio inveterado?
Sonhador?
Por muitas vezes casado?
Que a pobreza lhe sobrou de resto?
É sempre assim...
O que haveriam de falar
de um maestro?
Senão deste fim.
Se fosse um grande? Escreveriam!
Pequeno que sou.
Me esqueceriam!

José Geraldo Martinez
Araçatuba - SP

Maestro respondo-te - Nadir A D’Onofrio

Maestro, essa plateia que hoje o aplaude,
Por certo nada imagina, da dor que sentes!
Pois estão extasiados pelo som,
Da harmoniosa sinfonia!
Depois do espetáculo,
O palco já todo apagado.
Toque ainda mais uma vez,
A música que você... compôs.
Na noite que, seu grande amor encontrou!
Até o fantasma da opera o aplaudirá!
Se Mozart, Chopin ou Beethoven te ouvissem,
Por certo, grande orgulho sentiriam.
Até a solidão de ti se afastará!
Os insetos.. nas lâmpadas dançarão...
As Valkírias... no éter... cavalgarão!
Não deixe ruir teu coração,
Nem o palco das tuas fantasias.
Ao abri-se hoje as cortinas,
Seja o grande violinista.
Demonstre esse dom que Deus lhe deu.
Transforme a dor que agora sentes,
Em harmonia, fusa, semifusa, colcheia.
Tire das cordas do teu violino,
As notas musicais, como se fossem
Gemidos sensuais...
Grande ou pequeno,
De ti nunca esquecerão.
Foste o musico que, do violino extraia,
Suaves acordes que, embalavam
sentimentos, emoções.
E o maestro, arranjador dedicado,
Que regia com perfeição.
O que por certo não esquecerão é que,
A música, foi sua vida, sua grande paixão!

Nadir A. D'Onofrio
Santos - SP - 31/07/2004
https://www.nadirdonofrio.com



Fundo Musical: Violin Concerto in E Major - BWV 1042 - Allegro - Bach


 
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