A chegada da seca 22/04/2008 - Visitante indesejável


No final do primeiro semestre do ano civil, a seca ronda faceira nossa pele viçosa.

Os ventos que antes traziam chuva, agora fazem dançar as folhas amarelas  das grandes árvores, em movimento vertical em dire-ção aos telhados dos edifícios e das casas, no primeiro momento.

Entopem as calhas, que caem naturalmente no esquecimento por-que, com certeza absoluta, estarão em desuso nos cinco meses se-guintes.

No segundo momento, misturam-se aos papéis, plásticos e grãos de terra ruim.

Voam por sobre o solo nas ruas asfaltadas ou no gramado irregular para dançarem um balé sufocante sem esforço.

Entorpecem nossa vontade de abrir as janelas das residências e as pálpebras ressecadas.

Nesse vai e vem desprovido de sintonia, nos cobrimos de cremes e tomamos nosso assento no camelo imaginário que insiste em apare-cer nos nossos pesadelos.
 
Partimos para a hibernação sempre imperfeita, sempre incomple-ta, na companhia da indesejável Aridez, hóspede disfarçada de na-turalidade, que domina o Planalto Central do Brasil.

Chega como chegam certos políticos de caráter questionável, de intenções escusas, sem relação afetiva com a terra em que se ins-talam.

Tanto em um quanto em outro caso, vem apenas de passagem (
ain-da bem!).

Se pudéssemos abreviaríamos ainda mais sua estadia.

Mas parece que um não assusta o outro.

E nós, nativos e adaptados, dispomos de menos oxigênio para respirar.

Sandra Fayad
Brasília - DF


 

 
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