História da Horta Comunitária Urbana (HCU)


A PREPARAÇÃO:

O espaço disponível - 200 m² - corresponde à parte frontal de três residências na Quadra 713 Norte, em Brasília, limitada aos fun-dos pelas casas e à frente por calçada e rua de trânsito intenso de veículos.

A área encontrava-se abandonada, cheia de entulhos, restos de obras (
pedras, cimento, ferros, tinta de paredes, tinta de ferra-gens, vidros, plásticos), totalmente imprópria para agricultura.

O primeiro passo foi a remoção de todo o material misturado à terra e transformação do solo improdutivo em solo limpo, termi-nando com um pequeno período de descanso.

Em seguida, iniciamos a fase de revitalização da área, através de tratamento da terra (
aplicação de matéria orgânica, poda de ár-vores, combate aos formigueiros e cupinzeiros existentes).

Novo descanso.

Como o solo possui uma inclinação de mais de um metro, nos seus dez metros de largura, providenciamos o seu nivelamento e formatação dos canteiros em formas e tamanhos variados, já que existem diversas árvores frutíferas e ornamentais no local.

Na sequencia, definimos os locais de plantio, de acordo com as necessidades de cada tipo de mudas ou semente, obedecendo à sua necessidade de sombreamento, luz solar, umidade, capa-cidade de expansão, considerando também que necessitarão re-sistir ao excesso de água no período chuvoso e à falta de umida-de no período da seca.

São duas fases bem antagônicas que afetam diretamente a pro-dução local.

A IMPLANTAÇÃO:

Para interagir com o público e criar um ambiente convidativo à participação dos transeuntes e vizinhos que circulam na área, im-provisamos uma pequena decoração e a fixação de um mural com informações sobre as plantas, reportagens na imprensa sobre a Horta Comunitária Urbana (HCU), poesias e textos afinados com a atividade; disponibilizamos formulários para cadastramento vo-luntário, caixa de correspondência, recipientes para doações, locais para oferta e retirada de mudas e folhagens, mediante  pequenas doações em dinheiro na caixa de correspondências (autosserviço).

Observamos também que era necessário providenciar a prote-ção das matrizes das plantas mais tenras e das frutas (
mangas e jambos) que caem sobre a calçada e a HCU na primavera.

Instalamos, então, um telado em forma de cobertura de cabana de índio (
apoiado em bambus) entre a copa das árvores e o solo.

O apelo à sensibilidade das pessoas resultou na entrega à HCU de plantas abandonadas e doentes para recuperação.

Estamos implantando o hospital de plantas e tem surgido deman-da para a implementação do hotel para plantas, por parte de pessoas que viajam,  reformam, mudam-se de residência ou fi-cam temporariamente impedidas de cuidar delas.

Estamos analisando esta hipótese.

Na HCU, damos tratamento diferenciado para as plantas doadas.

As orgânicas, que não admitem uso de agrotóxicos, e ornamen-tais, que admitem uso de agrotóxicos, ficam separadas e rece-bem atenção de acordo com sua origem e antecedentes.

A MANUTENÇÃO:

Fazemos vistoria diária com recolhimento de materiais trazidos pe-lo vento ou  depositados na área por transeuntes descuidados, o que tem ficado cada vez mais raro.

São sacos plásticos, potes, garrafas, papéis de balinhas ou bom-bons.

Para conquistar os animais que frequentam a HCU: aves (
pombos, sabiás, beija-flores), borboletas, calangos, lagartixas, nós lhes oferecemos alimentos como alpiste, ração, compostos e água doce.

Construímos um minhocário, com as dimensões de 2m x 1,5m x 0,80m, onde os amigos da horta depositam sobras, como cascas de frutas e legumes e folhagens, para a alimentação das minho-cas que já produziram considerável quantidade de húmus em uso na HCU.

Adotamos o sistema de reciclagem de vasos plásticos e de cerâ-mica e de garrafas pet em três modalidades: transformação em vasos para mudas, delimitação de canteiros (
repelente de formi-gas e cupins) e embalagem para as poesias, que enfeitam o lo-cal.

A HCU  produz suas próprias matrizes (
sementes e mudas), que são colhidas e transformadas em novas mudas ou canteiros.

Constantemente reavaliamos, readubamos, fazemos rotatividade de cultura,  utilizamos a comunicação visual e desenvolvemos a sensibilidade e a percepção sutil para detecção de necessidades de cada espécie e fazemos o atendimento sutilmente solicitado pelas plantas.

Participamos de eventos, realizamos palestras e orientações pré-programadas ou não e aceitamos convites para participação em ati-vidades afins.

A EXPANSÃO (Projetos):

A - Coleta de água das chuvas na área urbana, a partir dos telhados das casas e prédios,  com canalização para reservatórios,  de onde  será distribuída para os pontos de irrigação,  através de goteja-mento  e/ou pulverização, conforme a necessidade de cada área plantada;

B - Abastecimento  do reservatório  através  de caminhões pipa, com programação sistemática de atendimento durante o período da seca;

C  - Elaboração e implantação de projeto paisagístico padronizado e institucionalizado.


D - Implementação de centenas de Hortas Comunitárias Urbanas semelhantes no Plano Piloto e Cidades Satélites do Distrito Federal com extensão para todo o território nacional

A CONCLUSÃO:

Horticultura é muito mais que um empreendimento comercial ou atividade profissional.

Horticultura é um processo de integração entre os seres humanos, plantas e animais.

É um hábito de vida que exige dedicação para se obter resultados a curto,  médio e longo prazo, como praticar exercícios, alimentar-se adequadamente.

Horticultura Urbana ou Rural deve ser objeto de atenção e apoio institucional, logístico e técnico, sem burocracia e sem demora, sob pena de não poder mais ser viabilizado.

Águas das chuvas que correm pelo asfalto da cidade arrastam con-sigo todo o lixo gerado nos centros urbanos, que vão contaminar a água que consumimos nos mananciais dos  rios próximos e no sub-solo,  provocando doenças já erradicadas, alergias e até a morte prematura.

Portanto, é urgente  que se pense em uma solução a curto prazo para este e outros problema, se quisermos que as duas próximas gerações cheguem saudáveis ao planeta e nele permaneçam em condições adequadas de sobrevivência e longevidade.

Neste caso, não há milagres à vista.

Deve haver ações responsáveis.

Sandra Fayad
Brasília - DF


 

 
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