Des-pedi Leila porque ela nunca sorri. Não dá pra trabalhar com uma pessoa que está sempre de cara fechada. O motivo dado era torpe demais, não pude acreditar. Durante o diálogo perguntei ainda se ela havia tentado conver-sar com Leila, sugerindo-lhe que fosse mais simpática, e a chefe respondeu que desconhecia a linguagem gestual e se não entendia o que ela falava. Como iriam conversar? O encarregado de setor, ao ver Leila, aproximou-se sorrindo e deu-lhe um abraço. Aproveitei e perguntei se ele tinha alguma re-clamação quanto ao trabalho de Leila, e ele me respondeu: - Ela sempre foi uma ótima funcionária, trabalhava muito bem e rapidamente. Quando terminava seu trabalho, ia ajudar os cole-gas mais lentos. A chefe retrucou: - Eu a mandava empilhar as caixas na vertical e ela as empilha-va na horizontal. Mesmo eu escrevendo num papel, explicando que as caixas deviam ser empilhadas na vertical, ela as empilhava de outro modo. Leila me explicou que aprendera com o chefe anterior a colo-car as caixas daquela maneira, pois de outra forma, as caixas cairi-am (o que já havia acontecido várias vezes). O encarregado concordou com Leila. Compreendi que Leila era uma funcionária muito competente, mas que não foi compreendida. Foi uma pena eu não ter levado um gravador para gravar toda essa conversa. Fica aqui meu desabafo e as perguntas: - Uma pessoa deve ser despedida por não sorrir? - Um chefe que trabalha com pessoas com deficiência auditi-va, não deveria estar preparado para com elas dialogar? Muriel E. T. N. Pokk
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