Mesmo que
tenham sido poucos dias, a convivência com esse povo tão diferenciado foi
algo de muito interessante...
Uma das boas lembranças que ficaram...
Ósculos e amplexos,
Marcial
Um brasileiro entre os
Pigmeus do Kisangani - Parte 2
Bem...
após o banquete "elefantástico", prometi que
tão cedo não comeria carne de elefante.
Até que é bem saborosa.
Depois de
churrasqueada, tem sabor semelhante ao da
carne de porco.
Acontece que, por eu ser "ligeiramente"
maior do que os pigmeus, tive que comer uma
considerável parte do pobre animalzinho, o
que me valeu um ligeiro desarranjo
intestinal...
Fazer o que?
Recusar os pedaços que me eram oferecidos
seria ofensa à tribo.
Já fora suficiente ofensa o fato de eu ter
recusado a tradicional oferta da noite com a
filha mais jovem do chefe.
A diferença de tamanho foi explicação
suficiente.
Não havia condições, nem que eu quisesse...
Os anciões da tribo são muito respeitados,
pois sua idade e vivência, lhes confere
status de sábios, e suas opiniões e
conselhos são sempre acatados.
Como aqui, bem pelo menos deveria ser
observado esse pormenor aqui também...
Como não tem mais condições de participar da
vida ativa da comunidade, eles auxiliam a
caçada de uma maneira muito interessante.
Eles tem uma capacidade impressionante de
imitar os animais da floresta.
Então, ficam escondidos na mata, imitando
geralmente as "vozes" de fêmeas no cio.
Os machos, atendendo ao "chamado", são presa
fácil para os caçadores.
Interessante este
método.
E funciona, pois nunca um macho
resiste ao chamado de uma fêmea no cio.
Funcionaria com os homens também...
Os pigmeus dividem-se em diversos grupos,
que vivem separados em pequenas aldeias, mas
que podem formar algo como um clã, tendo em
comum um totem, que pode ser a imagem de um
chimpanzé, ou de um leopardo.
O chimpanzé por sua sabedoria, e o leopardo
por sua qualidade de caçador e sua valentia.
Essa comunidade vive num regime bem
democrático.
Não tem um chefe específico.
Apenas "elegem" alguém considerado mais
sábio, quando é preciso confabular com os
demais africanos.
Contrariamente aos costumes das demais
tribos, o casamento entre os pigmeus sempre
ocorre entre jovens de clãs diferentes,
praticando o chamado "mariage d'echange", ou
seja, para poder casar com uma jovem de
outra clã, o candidato deve oferecer uma
jovem de sua clã, em idade adequada para
"substituir" a que ele está tirando.
Preferencialmente sua irmã mais jovem, mas
se não tiver, pode indicar outra.
Não deixa
de ser interessante.
A prática sexual é livre antes do casamento.
Assim, se uma jovem fica grávida, ela deve
manter em segredo o nome do "responsável"
até o nascimento da cri-ança.
Só então, pega o recém nascido, e o deposita
sobre os joelhos do pai.
Se este tomar a criança entre os braços, é
porque aceitou a paternidade, e podem então
se casar.
Já pensaram se a moda pega por aqui?
Ainda há que se notar que para haver o
casamento, tem que haver o consentimento das
duas famílias.
Não existe entre os pigmeus o abominável
sistema de compra e venda que ocorre nas
demais tribos africanas.
É muito comum, também, o uso de "filtros de
amor", tanto pelos rapazes, quanto pelas
moças.
Os rapazes, quando querem conquistar
determinada jovem, usam de dois artifícios,
bem interessantes por sinal.
Existe uma folhagem chamada "liaga", meio
parecida com a maconha, que eles mascam bem,
e depois deixam a saliva cair sobre sua
eleita, ou então, convencem-na a fumar uma
espécie de cachimbo, preparado com a folha
de liaga seca...
Convenhamos que seria interessante ver um de
nossos rapazes cuspir em cima da garota que
quer conquistar...
As jovens são mais discretas, preparam uma
espécie de sortilégio chamada "bodumere", e
a misturam à comida de seu eleito.
Dizem que não falha.
Lamento informar que
não conheço essa fórmula.
Pensei em trazê-la para cá, certo de que
poderia fazer fortuna vendendo-a às jovens
enamoradas.
Mas o segredo elas, apenas elas conhecem,
não informando a homem nenhum.
Lamento.
Suas crenças religiosas são bem definidas.
Como toda sua vida gira em torno da caça,
eles tem os deuses que os protegem e lhes
fornecem os meios de sub-sistência, bem como
em diversos sortilégios mágicos.
Contudo, sua vida é regida por um único Ser
Supremo, representado por um velho com
longas barbas brancas, chamado "Senhor das
Tempestades, da Calmaria, e do Arco Íris".
E é a ele que se dirigem antes de partir
para a caça.
É quem irá dar-lhes toda a proteção.
Também veneram a Lua, que foi quem criou o
primeiro homem: Ba'atsi.
Os pigmeus diferem completamente dos demais
povos africanos em seus usos e costumes,
fato que me deixou muito curioso, e por isso
os estudei mais a fundo, procurando
entender, e buscar as origens dessa
diferença toda.
Pelo seu próprio modo de vida, são
extremamente pobres, e não despertam cobiça
nem inveja dos demais, que, pelo contrário,
os respeitam muito.
São extremamente pacíficos, tendo um
temperamento super otimista.
Estão sempre
prontos para ajudar quem quer que seja.
Nunca guerrearam com ninguém, nem tampouco
foram atacados por nenhuma das tribos
beligerantes das vizi-nhanças.
Nem mesmo os terríveis Simbas que efetuaram
autênticas razias na região durante as
guerras havidas no Congo.
Creio que os suíços aprenderam com os
pigmeus a arte de sempre se manterem
neutros.
Em minha curta convivência com eles, aprendi
significativas lições de solidariedade, e de
bem viver.
Aprendi que o tamanho da sabedoria e do
coração dos pigmeus é inversamente
proporcional ao tamanho de seu corpo.
Estes são os PIGMEUS DO KISANGANI, e sua
maneira totalmente original e diferente de
viver, e certamente que se sua sabedoria
fosse bem utilizada por aqui, com certeza
poderia nos ajudar a fazer de cada dia,
sempre UM LINDO DIA...
|