Certamente
os pigmeus do Kisangani formam uma população totalmente suigeneris na
África...
Foto do resultado final da caçada ao elefante,
que narro a seguir...
Vale a pena ver...e vale a pena lembrar...
Ósculos e amplexos,
Marcial
Um brasileiro entre os Pigmeus do Kisangani -
Parte 1
OS
PIGMEUS DO KISANGANI
Marcial Salaverry
Inicialmente, é preciso definir o que são os
"Pigmeus”.
A princípio, pode-se pensar que são
anõezinhos.
Acontece que, na verdade, eles são é
baixinhos, mas não anões.
Explica-se melhor, esclarecendo que eles têm
o corpo de uma pessoa de estatura normal,
apenas suas pernas é que são curtas,
dando-lhes esse aspecto, digamos incomum.
Sua pele
é mais clara do que os demais africanos,
assemelhando-se mais aos bosquimanos, outra
etnia bastante curiosa, mas que não habita o
Congo, portanto não tive contato com eles.
Os pigmeus vivem exclusivamente da
caça, e "daquilo que encontram".
São exímios caçadores e sempre
encontram o que precisam para seu sustento.
Quando não conseguem caçar,
subsistem com os recursos naturais da
floresta, ou mesmo com o que encontram nas
plantações dos demais africanos.
Estes, curiosamente, não se revoltam
quando os pigmeus "colhem" o produto de seu
trabalho, pois consideram-nos como os "donos
da terra" e com direitos sobre elas.
Além do que, os pigmeus colhem
exclusivamente o necessário para a
subsistência, nunca abusando da boa von-tade
dos anfitriões.
Esse sistema de vida faz com eles
sejam nômades.
Nunca tem parada fixa.
São eminentemente pacíficos e nunca
são atacados pelos demais africanos.
Apenas o colonizador que não
aceitava "droit sur terre" deles, e
procurava defender suas plantações do que
eles chamavam "pilhagem dos pequenos".
Isto muitas vezes causou problemas
sérios para eles.
Os demais africanos sempre defendiam
os direitos dos pigmeus.
Claro, que devido ao nomadismo, não
faziam reservas alimentares de nada, sempre
vivendo o dia a dia.
Em vista disso, sempre precisavam
estar em atividade, procurando o alimento.
Existe um provérbio pigmeu que diz:
Um pigmeu com fome é um pigmeu preguiçoso.
Ou seja, não foi arranjar sua
comida...
Uma grande diferença entre os
pigmeus e os demais povos africanos, é o
sistema familiar deles.
Vivem em pequenas comunidades de 6 a
10 famílias no máximo, nunca excedendo 100
pessoas.
Como vivem se deslocando, fica mais
fácil em pequenos grupos.
São excelentes caçadores.
Com seus pequenos "arco e flecha",
tem pontaria mortífera, conseguindo abater
as peças com uma precisão incrível.
Quando a caça é muito boa, sempre
fazem trocas com os demais.
Chega a ser muito curioso verificar
que, se as demais populações africanas vivem
se digladiando e se matando, o comportamento
delas com os pigmeus é totalmente diferente,
já que eles têm livre transito entre todas
as demais tribos.
Estejam onde estiverem, os pigmeus
sempre serão bem recebidos por todos, e,
atualmente até pelos europeus que, uma vez
findo o ranço colonialista, entenderam que
precisavam viver como os africanos, ou então
voltar para casa.
E muitos europeus, realmente
aprenderam a amar a África, e nunca mais
quiseram sair de lá.
Na minha passagem pela região de
Kisangani, mais especificamente no Itouri,
tive oportunidade de acompanhar os pigmeus
numa caçada a um elefante.
Aqui cabe uma pausa para meditação.
Pena que o filme com as fotos
tiradas nessa viagem foi inutilizado por uma
patrulha militar atrabiliária (falarei mais
adiante), pois formávamos um quadro digno de
nota.
Entre os pigmeus, uma figura de 1m90
de altura, quase que não chamava a
atenção...
Bem, imaginem a cena o elefante
placidamente comendo suas folhagens, e os
minúsculos pigmeus se aproxi-mando.
À distância, acompanhava a cena, um
tanto quanto incrédulo quanto ao resultado
da caçada.
Perguntava-me que poder teriam as
minúsculas setas daqueles baixinhos contra
aquele monstro.
De repente, um deles, conhecido como
"grande caçador de elefantes".
Achei interessante nosso amigo
Kilolo, com 1m50 de altura, ser conhecido
por aquele apelido.
Repentinamente, vi surpreso o porque
desse apelido.
Kilolo, sorrateiramente chegou bem
perto do elefante e, empunhando com firmeza
sua pequena lança, atirou-a com precisão
certeira, contra a pata traseira do
"bichinho", bem na dobra do joelho, o que
tirou o equilíbrio do enorme animal, que
desabou por terra.
Imediatamente, com a rapidez de um
raio, Kilolo com outra lança, furou os olhos
do elefante.
Seguindo uma estratégia quase
militar, os demais componentes do grupo,
atiraram-se contra a tromba do ele-fante,
cortando-a com certeiros golpes de "machete”.
Sem o apoio traseiro, cego e sem a
tromba, o elefante ficou completamente
indefeso.
O restante da cena, foi preciso ter
um estômago um pouco forte para assistir,
pois enquanto o elefante ainda se debatia,
eles esperavam o "mais idoso" do grupo, pois
apenas ele poderia dar o golpe final.
Com sua lança, abriu o ventre do
bicho e, quando o ar parou de escapar pela
abertura, indicando que o elefante estava
morto, os demais praticamente "entraram"
dentro da carcassa do bicho, começando a
retirar as vísceras, que eram comidas ali
mesmo ainda quentes...
Delicadamente recusei a parte que me
cabia.
Convenhamos seria demais para um
brasileiro doido, mas nem tanto...
O grande pitéu, que seria a tromba,
foi levada para a aldeia, para ser entregue
com "pompa e circunstância", ao conselho de
anciões.
Apenas os mais velhos tinham direito
a saborear essa fina iguaria.
Há mais coisas a serem ditas sobre este povo
tão original...
Como veremos a seguir...
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