Sou ralé, mas honrado!

Recebi em 28/05/2018


Já pertenci à classe média, atualmente odiada pelos senhores do mundo, os acima da Lei, membros do partido dominante. Hoje sou ralé, procurando nas prateleiras dos supermercados os produtos MB (mais baratos); passei a frequentar, apenas de seis em seis meses, o salão do barbeiro menos caro; renunciei ao luxo de ligar o ar con-dicionado no verão; aproveito a água expelida pela lavadora após a centrifugação para lavar os pisos; graças à ajuda de meus filhos e netos inda mantenho meu plano de saúde (com atendimento cada vez mais discriminado); quatro meses de minha aposentadoria são para pagamento de impostos; depois de trabalhar cinquenta anos ininterruptos, consegui ter minha casa própria num modesto muni-cípio do Rio de Janeiro  e um Gol do ano 1990. Cada mês  que passa, coloco menos quantidade de gasolina no tanque com os mesmos R$ 60,00 e ando mais a pé. Não tive o dom de fazer fortu-na do dia para a noite, como aqueles que a fizeram, graças à sua “incomum habilidade de saber negociar”.

MAS, não vendi meu voto, minha consciência, minha honradez, mi-nha moral, minha vergonha, minha dignidade... para obtenção de mordomias, nomeação para cargos públicos, vantagens e benesses das mais espúrias e condenáveis. Ando de cabeça erguida, sem rabo preso e olho-me no espelho com a humildade dos justos e com caráter ilibado! Se não me for antes, estou cônscio de que minha queda livre como aposentado comum, será vertiginosa a ponto de algum dia vir a necessitar de uma dessas infames bolsas/esmola para sobreviver, mas não será por ela que me venderei ou me do-brarei sem lutar por um futuro digno para meus netos, bisnetos, pelas gerações que inda estão por chegar...

NÃO! NÃO TENHO PREÇO! Não estou à venda e nem sujeito a tro-cas. Sou um Brasileiro honrado que chora ao ver a sua Pátria arras-tada para um poço sem fundo, envergonhado de tanto ver triunfar a impunidade e a prosperidade dos corruptos e corruptores.

Se algum dia não puder comprar papel higiênico, não faz mal.
Manterei minha integridade moral, usando um pedaço de jornal!
Aqueles que moram em palácios que o usem do tipo aveludado.
Mas, por mais que limpem, sempre terão o rabo preso e cagado!


SOU RALÉ, MAS HONRADO!

Ary Franco
(O Poeta Descalço)


 

 
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