Já pertenci à classe
média, atualmente odiada pelos senhores do mundo, os acima da Lei, membros
do partido dominante. Hoje sou ralé, procurando nas prateleiras dos
supermercados os produtos MB (mais baratos);
passei a frequentar, apenas de seis em seis meses, o salão do barbeiro menos
caro; renunciei ao luxo de ligar o ar con-dicionado no verão; aproveito a
água expelida pela lavadora após a centrifugação para lavar os pisos; graças
à ajuda de meus filhos e netos inda mantenho meu plano de saúde (com
atendimento cada vez mais discriminado); quatro meses de minha
aposentadoria são para pagamento de impostos; depois de trabalhar cinquenta
anos ininterruptos, consegui ter minha casa própria num modesto muni-cípio
do Rio de Janeiro e um Gol do ano 1990. Cada mês que passa,
coloco menos quantidade de gasolina no tanque com os mesmos R$ 60,00 e ando
mais a pé. Não tive o dom de fazer fortu-na do dia para a noite, como
aqueles que a fizeram, graças à sua “incomum
habilidade de saber negociar”.
MAS, não vendi meu voto, minha
consciência, minha honradez, mi-nha moral, minha vergonha, minha
dignidade... para obtenção de mordomias, nomeação para cargos públicos,
vantagens e benesses das mais espúrias e condenáveis. Ando de cabeça
erguida, sem rabo preso e olho-me no espelho com a humildade dos justos e
com caráter ilibado! Se não me for antes, estou cônscio de que minha queda
livre como aposentado comum, será vertiginosa a ponto de algum dia vir a
necessitar de uma dessas infames bolsas/esmola para sobreviver, mas não será
por ela que me venderei ou me do-brarei sem lutar por um futuro digno para
meus netos, bisnetos, pelas gerações que inda estão por chegar...
NÃO! NÃO TENHO PREÇO! Não estou à
venda e nem sujeito a tro-cas. Sou um Brasileiro honrado que chora ao ver a
sua Pátria arras-tada para um poço sem fundo, envergonhado de tanto ver
triunfar a impunidade e a prosperidade dos corruptos e corruptores.
Se algum dia não puder
comprar papel higiênico, não faz mal.
Manterei minha integridade moral, usando um pedaço de jornal!
Aqueles que moram em palácios que o usem do tipo aveludado.
Mas, por mais que limpem, sempre terão o rabo preso e cagado!
SOU RALÉ, MAS HONRADO!
Ary Franco
(O Poeta Descalço)
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