Difícil, bem difícil você
conseguir doar mais do que recebe. É uma luta constante para manter seu crédito
positivo com o nosso Divino Criador. Procuro aproveitar as oportunidades que
surgem ou inven-tá-las, mas não é fácil!
Saber lidar com o
semelhante é um constante desafio e tenho aprendido muito com isso, tirando
proveito da experiência adquiri-da a cada dia vivido. Relato abaixo alguns
episódios aleatórios, para melhor elucidar onde quero chegar e provar o
enunciado des-ta minha crônica.
Cansado de ficar
sentado no banco da praça à espera de que minha esposa termine de fazer suas
compras no supermercado, resolvi ocupar este meu tempo ocioso ajudando o
próximo.
Nas ruas circundantes
e em dois estacionamentos próprios daquele estabelecimento, destinados aos
fregueses, existe um ininterrupto fluxo de veículos à procura de vagas, difíceis
de serem encontra-das. Então decidi bancar um “flanelinha”,
avisando aos recém-chegados onde estacionar. Faço sinal com a bengala de meu uso
provisório, espero, apontando à distância a vaga disponível ou “dando
a dica” verbalmente ao
motorista, caso esteja ele ao al-cance de minha voz.
As reações são as mais
controversas. Uns, após estacionar vêm agradecer-me, outros acenam de longe para
mim com o polegar para cima, outros nem olham para a minha cara, as mulheres
sempre agradecem com um recatado sorriso desenhado no rosto. Se as compras da
minha metade são demoradas, procurando os produtos MB (mais
baratos), alguns “ajudados”,
no retorno aos seus carros, renovam seus agradecimentos com um “valeu”,
“quer uma carona pra
casa?” ou um simples
mas igualmente gratificante “obrigado”.
Aí, nesses momentos, sinto uma alegria enorme de ter prestado ajudas
desin-teressadas.
Aconteceu uma vez de
ter extrapolado o meu “querer
ajudar”, avisando ao
motorista que se afastava do carro após estacioná-lo, a respeito dos vidros
esquecidos abaixados. Ele olhou-me como que me achando um pateta, apertou um
botão no seu chaveiro, de cos-tas para o veículo, tocou um bip e os vidros
levantaram como num passe de mágica. Fiquei com cara de bobo, vítima das
inovações do modernismo. O meu “Rolls
Royce” modelo gol 91,
levanta os vidros acionados manualmente por manivelas internas; agora é tudo
auto-matizado. A única vantagem que levo é que o dele pode enguiçar; o meu
jamais!
Uma vez corri para
emparelhar meu carro com o de uma “distinta
senhora” e ao gritar
avisando-lhe “OLHA A
PORTA ABERTA”, ela
imediatamente gritou-me de volta “É
A TUA MÃE!”. Reduzi a
velo-cidade e deixei-a prosseguir com a porta do carona mal fechada e toda feliz
da vida por ter respondido à altura a “ofensa”
recebida. Mas não mais feliz do que eu de ter feito minha parte, o certo, o
correto, o bem intencionado! Doutra feita foi a calota que se soltou do carro
que vinha à minha frente. Dei uma buzinada, pisquei o farol na sua retaguarda e
consegui avisar ao motorista do ocorrido, na esperança dele interessar-se em
voltar para recuperar a calota desprendida. Ele provavelmente tomando-me por um
perigoso ladrão com cabelos pintados de branco que estava dando o golpe de um
novo tipo de assalto, respondeu-me: “Não
faz mal, depois compro outra”
e acelerou o carro, desaparecendo de minha vista. Tive sorte de não ter uma
patrulha policial por perto, pois acho que seria acu-sado por ele de tentativa
de assalto.
Dificilmente subo a
ladeira rumo à minha casa, sem dar carona prioritariamente a idosos. Alguns já
me conhecem, mas eu não tenho mais aquela memória fotográfica e fico surpreso
quando sou reconhecido. O Sr. Já me deu carona noutro dia, lembra? Se o ido-so
está carregado de compras e sua residência fica nas imediações da minha, “dou
uma esticada” e
deixo-o na porta de casa. Sinto uma felicidade imensa quando recebo aquele “muito
obrigado” tão
sincero...
Para variar, às vezes
compro um pão francês e picando-o em peda-ços diminutos, atraio pombos à volta
do banco da praça em que me aboleto, Como é gratificante poupar aqueles pobres
coitados de permanecerem com seus papos vazios e mal alimentados. Alguns são
mães que têm filhotes nos ninhos a esperá-las para regurgita-rem em seus bicos
abertos e famintos o alimento de que tanto necessitam. Mas existem pessoas que
fazem questão de passar exatamente onde estão os pombinhos a comer, obrigando-os
a voar pelo simples pra-zer de espantá-los e, se algum deles não se intimida e a
fome fala-lhe mais alto que a cautela, permanecendo sem assustar-se, está
ar-riscado a ser chutado pelo desalmado ser humano.
Se vejo um carro com a
bateria arriada sendo empurrado por uma ou duas pessoas para pegar no “tranco”,
sou incapaz de passar in-diferente e junto-me a eles para ajudar, Alguns lançam
protestos, achando desnecessária minha ajuda e uma temeridade por causa de minha
visível idade avançada, Mas ignoro e presto minha solida-riedade assim mesmo, em
que pese o coração ofegante mas feliz após o esforço por mim despendido.
Ficou-me a gratificante espe-rança de ter angariado mais amizades.
Hoje dou minhas
caminhadas matinais com o auxílio de uma bengala que pertenceu ao meu querido e
falecido pai. Estou em crise com uma “hérnia
de disco” e a coluna
vertebral me dói muito, mas andar é preciso, se parar morro. Então, tenho por
companheiro nestas minhas atuais andanças o Sr. Werneck, 88 anos e companheiro
de bengala. Andamos no mesmo ritmo e trocamos grandes experiências passadas.
Terminando, confesso
que gostaria de poder fazer mais. Visitar hospitais, orfanatos, asilos,
sanatórios mas falta-me tempo e força física para tal. Longe está minha intenção
de bancar o Bom Samari-tano mas gosto de ajudar, sempre que possível e, em casos
extre-mos, mesmo quando impossível.
DITADO ANTIGO:
“Aquele que não vive para servir, não serve pa-ra viver.”