Acabara de deixar no
Centro da megametrópole em que resido (Mi-guel
Pereira), minha
esposa e filha mais nova. Ficaram de ir ao mé-dico para consultas de rotina,
cortar os cabelos no salão de beleza e na farmácia comprar uns remédios.
Quando acabassem, telefona-riam para ir buscá-las de volta ao nosso “home sweet home”.
Numa das ruas desertas do
bairro em que resido, um caminhão que vinha em sentido contrário, parou para
dar-me passagem num es-treitamento da pista, provocado por um outro caminhão
estaciona-do. Parei eu antes e pisquei os faróis, dando-lhe prioridade. Vinha
carregado de tijolos e algumas manilhas. O motorista, aceitando minha
gentileza, parou ao meu lado e agradeceu:
__ A preferência era sua, meu amigo!
__ Engano seu! O senhor está trabalhando e eu estou passeando.
__ Valeu, meu irmão; fique com meu cartão e é só me telefonar que terá um frete grátis!
__ Obrigado amigo, quando precisar de uns poemas, estarei às or-dens, disse-lhe eu sorrindo e
entregando-lhe um cartão com meu telefone.
Atrás do meu “possante”
havia parado um carro “estrangeiro”
com o motorista meio estressado que ao ultrapassar-me, vociferou:
__ Tá pensando que é o dono da rua, né? Velho!
Sorri e sopesei no meu imaginável quantas reações poderia eu ter tido para revidar aquela exagerada
intolerância, mas limitei-me a sorrir e ele se foi sem antes “mostrar-me o dedo médio” da mão esquerda, provavelmente irritado com meu desconcertante sorriso e inabalável humor.
Chegando em casa, fui festivamente recebido pela minha fiel cade-la e, após guardar como recordação
o cartão do meu novo amigo fretista Álvaro Marques, vim escrever algo a respeito do ocorrido. Ao meu lado, em posição de esfinge, fez-me companhia a
Bella assistindo meu dedilhar no teclado do computador.
“Gentileza gera gentileza” já havia sido escrito pelas ruas do Rio de Janeiro por aquele famoso poeta popular, profeta,
pensador, fervoroso religioso cujo nome ignorado por muitos era José Datri-no. Em contrapartida, ficou célebre a sentença cujo autor desco-nheço: “À toda ação, corresponde uma reação igual e contrária.”, regra a qual havia eu acabado de quebrar.
E quedei a meditar: Como a Humanidade convivendo sob o mesmo teto celestial, consegue dificultar o interagir
entre irmãos, sagrado parentesco que nos une? Todo o imenso mundo e sua inesgotável natureza ao nosso dispor e disputamos cada palmo de terra em proveito próprio,
sem nos preocuparmos se o próximo tem um chão para pisar.
Temos aquele direito sagrado de “ir e vir”, mas não nos interrom-pam a passagem! Caso contrário, viramos bicho e seremos capazes de chegar as vias
de fato! Doravante, ao tentar ser gentil com o próximo, tomarei mais cuidado para não cometer este nefando e imperdoável crime...
APRENDI A LIÇÃO!
Ary Franco
(O Poeta Descalço)
Fundo Musical: Imagine - André Rieu