Desde que tivera a ajuda
dos meninos-morcegos, a vida da Joa-ninha Nini, mudara
completamente.
Antes do ocorrido, fora um pequeno ser sem
gosto por viver.
Nascera sem bolinhas na sua carapaça.
Foram Zico e Zica que lhe devolveram a
felicidade ao colarem confetes vermelhos as suas asas.
Os morceguinhos tinham desaparecido.
Nini ouvira falar que tinham desmanchado o
velho casebre.
Ela ficara triste, pois ambos tinham
mostrado-se verdadeiros amigos para ela.
Na vida, como na natureza, existem seres
das mais variadas espécies, com os mais diferentes tipos de
sentimentos.
No jardim, onde vivia a nossa joaninha,
quase todos já tinham percebido que suas bolinhas não eram
naturais.
Afinal, não existem joaninhas pretas com
bolinhas vermelhas.
Mas como ela, mostrava-se feliz, muito
feliz assim, todos os animais fizeram um pacto de silêncio e
nada disseram a ela.
Passaram-se os dias e Nini era só
felicidade.
Cantava lindas canções, voava de flor em
flor exibindo sua nova roupagem.
Março chegou e com ele mais alguém
apareceu de mudanças para o jardim – Zuzu, uma joaninha muita
exibida e cheia de si.
Tinha uma bela carapaça vermelha com
exuberantes bolinhas pretas.
Samuel, um grilo muito amigo de Nini, foi
o primeiro que viu a nova moradora do jardim.
_ Boa tarde! – disse ele _ Tu és nova por
aqui?
Zuzu mediu o grilo dos pés à cabeça com o
olhar.
Como uma criatura tão feia dignava-se lhe
dirigir a palavra.
_ Quem tu és, criatura feiosa? – resmungou
ela.
Samuel levou um susto, nunca fora tratado
daquele jeito, mas mesmo assim, mostrou sua educação.
_ Senhora Joaninha, eu sou Samuel!
Eu estou sendo educado e quero dar-lhe as
boas vindas ao nosso jardim!
_ Criatura feiosa!
Eu não preciso da sua atenção!
Sou Zuzu, a joaninha mais linda do mundo.
Todos admiram a beleza da minha cor a das
minhas bolinhas.
Não há ninguém mais bonita do que eu!
Samuel deu ás costas e saiu.
Nunca vira uma criatura tão petulante.
Pensou em Nini.
Como as duas eram tão diferentes!
Esta Zuzu poderia fazer mal a sua boa
amiga.
Zuzu instalou-se sob um pé de roseira.
Era a flor ideal para servir-lhe de
morada, pois as rosas eram tão belas quanto ela.
Dias depois.
Nini voava tranquilamente,
quando viu a figura de Zuzu próxima à roseira.
Desceu até ela e de pronto, encantou-se
com aquela exuberante figura.
Zuzu, ao contrário, ao avistar Nini,
desmanchou-se numa risada sarcástica.
_ O que és tu, criatura esdrúxula?
_ Eu sou a Joaninha Nini? – respondeu,
humildemente.
_ Joaninha?
Não sejas ridícula!
Onde já se viu uma joaninha preta com
bolinhas vermelhas.
Tu és uma aberração da natureza!
Após dizer, estas duras palavras, Zuzu,
afastou-se voando.
Nini ficou paralisada, sentia-se em estado
de choque.
Como uma criatura tão bonita como Zuzu
poderia ter dito aquilo.
Ela sabia que suas bolinhas não eram
verdadeiras, mas sentia-se feliz com elas... Bolinhas
vermelhas... Bolinhas pretas...
Afinal, como era ser uma joaninha de
verdade?
Com o coração cheio de tristeza, Nini
pôs-se em direção da casa de Samuel.
Seus olhos estavam marejados de lágrimas.
_ O que houve, Nini?
Por que tanta triste?
_ Eu encontrei uma linda joaninha...
_ Já sei!
A tal Zuzu, aquela que é bonita, mas
perversa.
O que ela disse a ti?
_ Eu sou uma aberração da natureza!
Não existem joaninhas pretas com bolinhas
vermelhas!
Nini chorou, chorou cada vez mais.
Samuel esperou que ela se acalmasse e
depois lhe falou:
_ Escute, Nini!
Tu és uma joaninha muito
boa, amiga de todos.
Nós gostamos muito de ti, assim do jeito
que és!
_ Mas eu não tenho carapaça vermelha e
bolinhas pretas!
_ Isto não importa!
Tu és feliz da maneira que és!
Sempre acompanhamos a tua vida.
Eras tristes até o dia que aqueles
morceguinhos colocaram em ti as bolinhas de confete.
Hoje, és alegre e assim que deves ser!
Não importa o que os outros dizem.
_ Tens razão, Samuel!
Devo fazer ouvido mouco a essa tal Zuzu.
Obrigada, meu amigo!
Assim, a Joaninha Nini, voltou para sua
casinha sob a folha de Monstera.
Estamos no mês de março, época de muitas
chuvas.
Os moradores do jardim resolveram fazer
uma festa ao ar livre.
Todos foram convidados, até mesmo Zuzu,
que resolveu aceitar.
Andava sentindo-se uma tanto entediada.
Era muito chato ser linda, lustrosa e
brilhante.
A festa corria maravilhosa, muita música,
muita comida, muita dança.
A animação era geral, Zuzu estava,
realmente, empolgada...
Aqueles feiosos podiam ser divertidos.
Em meio à folia, as águas de março
abalaram-se dos céus sobre nossos dançarinos.
Foi um corre – corre geral.
De repente, ouve-se uma sonora gargalhada.
Era Samuel e Nini.
A chuva caira sobre Zuzu, lavando toda
tinta com a qual ela pintara as suas asas.
Era um mosaico de vermelho e preto que
escorria pelas asas da pretensiosa joaninha - que era tão bela.
Zuzu voou para longe e ninguém nunca mais
ouviu falar dela.
Nini continuou sendo uma joaninha feliz e
acreditando num velho ditado –
“Nem
tudo o que reluz é ouro!”.