O mundo enfeita-se de cores e formas definidas pela natureza.
Em regra
geral, os seres que nele habitam devem conformar-se com suas condições
naturais.
Tudo se faz em harmonia, mas alguns deslizes são acontecidos,
as chamadas mutações.
A partir destas afirmações, vamos contar a
história de Nini, uma joaninha muito triste, mas que não expunha a ninguém o motivo de sua tristeza.
Havia um lindo jardim, tão lindo quanto os pintados nas telas
de Monet.
Muitas e muitas flores, de variadas cores, centenas de aromas.
Era tudo tão colorido que o olfato e a visão mal tinham tempo
de associarem-se, para informar ao cérebro tanta beleza.
Mas nem a formosura do local,
trazia encantamen-to para Nini.
Passava seus dias sob a folha de Monstera que era sua morada.
Chorava tão baixinho, que os demais animais que por ali passa-vam não percebiam seu pranto.
Perto dali, existia um velho casebre abandonado, e nele vivia uma família de morcegos.
Os dois “meninos-morcegos” eram bastante levados, mas tam-bém possuíam bom coração, seus nomes – Zico e Zica.
Não é à toa que usam a noite para procurar alimento.
Nossos amiguinhos gostavam de aventuras e atender às reco-mendações de sua mamãe não estava em seus planos.
_ Meus filhos, não saiam durante o dia! – dizia ela.
_ Sim, mamãe! _ repetiam os meninos com os dedos cruzados às costas.
Assim que mamãe-morcego pendurava-se nas vigas do teto para dormir, os safadinhos tomavam o rumo da rua.
Nesta manhã voaram um bocadinho, mas logo ouviram lamentos vindos do jardim abaixo deles.
_ Que será isso? – perguntou o menino morcego à sua irmã.
_ Zico, parece que alguém está a chorar!
_ É verdade, Zica!
Agora, estou a ouvir melhor!
Vem
ali, daquela planta com as folhas furada.
_ Estou vendo, vamos até lá!
Assim, os dois meninos desceram até a planta onde morava Nini.
Ela estava inundada em lágrimas.
Seus olhos mal se abriam de tão
inchados.
Os morceguinhos aproximaram-se despacito.
Eles achegaram-se
à folha, onde notaram a presença de Nini.
A quantidade de lágrimas que escorriam de seus olhos era tama-nha, que ambos precisaram sacudir suas asas, banhadas por elas.
_ Porque
choras? - perguntou Zica, compadecida do sofrimento da joaninha.
_ Eu... Eu... – continuou a soluçar.
_ Pare com este choro! – disse Zico - _ Nós queremos te ajudar!
O morceguinho estendeu um lenço para a joaninha que secou
suas lágrimas.
Alguns minutos depois, ela já estava recomposta para conversar com os meninos.
_ Agora que já estás calma, conte a nós, qual é o problema que te aflige.
_ Olhem para mim!
Eu sou toda preta! – exclamou chorosa.
_ Grande coisa! – disse Zico _ Nós também somos!
_ Mas vocês são morcegos!
Eu sou uma joaninha e nasci
sem as bolinhas vermelhas!
Os dois meninos-morcegos compadeceram-se de Nini.
Já haviam visto outras joaninhas com suas lustrosas asas pretas repletas de bolinhas vermelhas.
_ Já sei como podemos resolver isso! _ exclamou Zico.
_ É verdade!?
_ Um sorriso surgiu no rosto de Nini.
Será que finalmente
ela poderia ser feliz como suas compa-nheiras?
_ Espere aqui, Nini!
Eu e minha
irmã Zica vamos sair um pouquito, mas voltaremos!
_ Até breve, meus bons amigos!
– disse mais feliz.
Os dois morceguinhos voaram até a
cidade.
Lá procuraram a livraria de Dona Traça.
Fizeram algumas compras e
retornaram para junto de Nini.
_ Que bom que
vocês voltaram!
Fiquei com medo que tivessem feito uma falsa promessa para mim!
Ora, Nini!
Amigos não atraiçoam amigos!
Nós empenhamos nossa palavra e aqui
estamos para te ajudar.
_ Feche bem os teus olhos! _ disse Zica.
_ Só abra, quando nós mandarmos!
_ Farei o que dizem!
A joaninha Nini cerrou seus olhos.
Usou toda força que tinha para ter certeza de que não estava sonhando.
Os meninos começaram a trabalhar na carapaça preta de joa-ninha.
Uma hora depois, Zica segurava um grande espelho em suas mãos.
_ Pode abrir seus olhos, Nini! – disse Zico.
A joaninha abriu lentamente as pálpebras.
Tomou um susto.
Diante do espelho,
vislumbrou sua carapaçã, antes preta com centenas de bolinhas vermelhas.
_ Milagre! -
exclamou feliz, _ Como vocês conseguiram isso?
_ Muito simples! – falou Zico _ Passei cola
Super Bonder em
suas asas e Zica jogou confete vermelho sobre a cola.
Afinal, é carnaval!
_ Que lindo!
Eu estou muito feliz, meninos!
Vocês dois serão meus amigos para sempre!
Abraçaram-se como verdadeiros amigos o fazem.
E partiram.
_ Zico, tu notaste algumas coisa?
_ O que exatamente, Zica?
_ Nini, está
tão feliz que mal se apercebeu...
_ De que, meu irmão?
_ Ela é preta com bolinhas vermelhas...
_ É mesmo!
Joaninhas são vermelhas com bolinhas pretas!!!!
É maravilhoso termos o poder de ajudar a um amigo que sofre.