Seu Toca sempre foi um uma boa pessoa, trabalhou
muito, casou-se e
pois dos trinta, não tiveram filhos.
Ele amava muito sua esposa dona Toca, parecia mesmo que um foi feito para
o outro, até os nomes eram iguais, quando um adoecia o outro se entristecia e neste estado de união, consideração e muito amor
permaneceram por toda vida.
Levava vida simples em um sítio longe de qualquer tipo de recurso,
principalmente acesso aos serviços médicos e de saúde em geral.
O lugar onde moravam pertencia a um fazendeiro e por ali tinha várias
famílias,que eram muito unidas.
Entre os moradores tinha seu Zeca corajoso, lhe deram este nome,
pois ele sempre dizia ter matado onça, segurado cobras venenosas, amansado burro bravo e ainda dizia que certa noite lutou
feio com um lobisomem.
O pior é que a maioria daquele povo acreditava nestas conversas
do Zeca corajoso.
Tinha também o Pedro pau d'água, que era homem trabalhador,
mas vivia sempre com uma garrafa de pinga na mão, este já gos-tava de inventar história principalmente de
defuntos, assom-brações, dizia que dormia debaixo das árvores sonhando com velórios e em alguns o defunto
piscava ou até falava, mas que ele nunca teve medo de morto.
Certo dia dona Toca havia saído para visitar uma amiga que morava naquelas cercanias, enquanto isto dois ladrões chegaram ao bar-raco do casal e para que Seu Toca não gritasse e
mesmo pensando em matá-lo amarram um pano em sua boca, e em seu pescoço e colocaram algodão
em suas narinas bem ao fundo,
mas como forçaram com palito de fósforo ali ficou um pequeno orifício.
Após roubarem um dinheirinho do casal os ladrões foram embora
e achando que o idoso estava morto tiraram o pano da boca e do pescoço e desapareceram.
Como era quase fim de tarde, dona Toca chegou e tudo estava silencioso,
vendo o esposo naquele estado começou a chamar os vizinhos, nesta hora quase todos viraram médicos, faz chá disto ou daquilo,
ponha-o debruço, veio o octogenário benzedor, mas nada adiantou, deram seu Toca por morto.
Logo apareceram os que gostavam de dar banho em defunto, ar-rumaram até
um velho paletó com gravata e seu Toca estava até com a feição bonita.
Ali tinha de tudo, apareceram as rezadoras e até umas carpideira (aquelas que
choram o tempo todo pra ganhar um dinheiro, mas desta vez foi grátis).
Naquele tempo o caixão era feito por um carpinteiro do sítio que por sinal sempre tinha
alguns de reservas e o enterro era feito num pequeno cemitério que ficava à beira da estrada.
A noite chegou, imaginem como era o velório de gente tão simples naquela época.
Chá de erva-cidreira pra acalmar dona Toca, café pro povo, uns achava que morreu disto ou daquilo.
Mas lá pelas tantas da
madrugada, o povão começaram a justificar que iriam embora, mas de manhã voltariam e ficariam até o mo-mento de levar o morto para sua
eterna morada.
Resumindo, ficaram o Zeca corajoso o Pedro pau d'água, duas carpi-deiras
além de dona Toca que chorou tanto e acabou sendo levada para o quarto e caiu em um
profundo sono.
Zeca de olho no defunto e pau d'água bêbado chorava em volta do caixão ao
lado das carpideiras e lamentava que seu Toca era seu maior amigo e que jamais encontraria outro como aquele.
O que eles não esperavam era um espirro de seu Toca e um banho de algodão
na cara do Pau d'água.
O susto foi grande, Pau d'água caiu e por ali mesmo amanheceu, dona Toca no
quarto dormindo nada viu e os outros três saíram correndo, derrubando bule de café fazendo outros estragos e di-zendo sentir arrepio no corpo
e com as pernas trêmulas cai aqui, cai ali, conseguiram avisar umas duas casas e pediram pouso por ali mesmo.
O que ninguém sabia era que seu Toca teve foi uma morte aparente com batimentos cardíacos
imperceptíveis e movimentos respira-tórios quase ausentes, este estado patológico que simulou a mor-te foi provocado pela asfixia.
O povo também ficou espantado e vendo de longe seu Toca ca-minhar pelo quintal, dona
Toca também quando o viu de manhã caiu assustada, mas logo levantou da
queda, acreditando ter al-cançado milagres efeito das rezas, mas isto
não convenceu todo o povo, muitos mudaram do lugar, outros nunca mais passaram à frente da casa do velho Toca e alguns faziam romaria dizendo
que iam buscar milagres na casa do santo Toca.