Como hoje é Dia de Santo Antonio, amigo íntimo do
meu pai, eu acordei com saudade de outro Antonio, um menino lindo que
ga-nhamos de presente na pequena casa, que já acolhia três meninas.
Papai dizia, naquela mistura de português com dialeto italiano.
– Mas “Minha...” (era
assim que ele tratava a nossa Mãe) – eu quero um filho homem!
Todo mundo tem filho homem e ainda por cima o meu vai ser médico!
E foi nessa casa, onde moramos por muito tempo
antes de ter a “nossa casa” de verdade, nós
tivemos a grata satisfação de receber o primeiro menino da família, o
Toni, para mim; o Toninho, para os outros irmãos e o Dr. Antonio, hoje,
para muitos.
Que belo ragazzo o meu irmão Toni!
Ele veio logo depois de
mim e, é claro, aí o meu reinado chegou ao fim...
Naquele tempo lindo
não havia motivos de ciúmes e sim de partilha e alegrias, pela chegada
daquele menino gorducho e fofo demais.
Toni é bom com todo o sentido da palavra.
Até
hoje, mesmo muito pequenina, eu ainda me lembro perfei-tamente o dia que
o amigo Elpídio, o fotógrafo, foi na nossa casa para tirar fotografia do
Toni.
Até a roupa que ele usava eu me lembro... sentadinho na calçada da
casa, com um pano para não sujar a roupinha... uma graça!
Mamãe babava
e papai não tinha nem onde colocar o tamanho do seu sorriso lindo.
O Toni foi crescendo e se tornou uma figura lendária na nossa famí-lia!
Era muito mais “levado” que a maioria das
crianças.
O danado trocava a letra ele (L)
pelo erre (R).
Aí ficava mais ou menos
assim:
– Mãe, o rreiteirro já
chegou parra trrrazerrr um rritro de rreite parrra nós.
Eu querro
beberrrrrrrrrrrr rreite.
Pega rráaa dentrrrooo o rritrroooo prraaaa nós,
pega!
Era demais!
E não havia ninguém no mundo que
fizesse o Toni falar direito.
Sentávamos para dar “aula
de diferença entre o R e o L, mas nada!
Um belo dia, que não me lembro,
ele começou a falar como os outros humanos.
Foi uma festa!”
Além do Vasco da Gama, time de futebol, ele
adorava a Bimba e a Bimba tinha paixão de mãe por ele.
Ela tomava conta
dele, ele vivia na casa dela.
A Bimba corria atrás do Toni o dia
inteiro.
Na verdade, acho que ela não era bem uma vizinha, era muito
mais que isso...
Mas o danado era ligadíssimo.
O Toni conseguiu a
incrível façanha de ser atropelado pelo único carro que Santa Tereza
tinha!
Foi um Deus nos acuda! Algum tempo depois ele literalmente cortou
o nariz fora (ficou pendurado por um milímetro)
brincando de pique na casa da minha tia Maria.
Tascou o nariz na quina
de um armário.
Nesse dia eu chorei.
Não podia nem imaginar o meu Toni
sem nariz.
Ainda bem que o nariz dele colou em poucos dias... sorrio ao
me lembrar disso!
Com a adolescência, Toni se tornou um menino
quieto, estudioso, dedicado.
Sempre foi bom filho.
Hoje é um respeitado
médico e pai de duas lindas meninas.
Tenho imenso carinho por esse Toni,
que durante vários anos, enquanto estudava medicina, vivia bem pertinho
de mim.
Hoje nos vemos sempre e o carinho é exatamente o mesmo, senão
maior.
Ao Toni, o meu eterno carinho, um beijo de nosso
pai, que era amigo íntimo de Santo Antonio...