O exagero...


Vovó Albertina, mineira prendada, cozinheira de forno e fogão, quase não era exagerada.

Achava que alimentar sua família, além da qualidade, que exigia de si própria no preparo dos alimentos, sempre saborosos e que ninguém punha o menor defeito, estava o item quantidade...

Adorava quando comíamos até nos fartar e dizer que não aguentá-vamos mais nada.

Ora vejam só: quando fritava pastéis, para um simples lanche da tarde, o fazia de sessenta pra cima, nunca menos.

E, enquanto fritava, todos tinham direito a uma provinha, que podia ser um, dois, três ou quantos pastéis desejássemos... isto, antes do lanche.

Quando fazia suas famosas torradas de rodelas de bisnagas grandes e frescas, fritas na manteiga, pingava manteiga pra todo lado, mas eram apreciadíssimas pois feitas com manteiga mineira da melhor qualidade e procedência.

Suas rabanadas de Natal, ou de Páscoa, eram enormes, suculen-tas e preparadas durante uma tarde inteira, tal o grande número delas.

O doce de banana em rodelinhas era feito num grande tacho de cobre e ficava vermelhinho... rendia para mais de três quilos.

A festa de casamento da mamãe e papai foi super interessante.

Naquele tempo não se usava servir salgadinhos ou pequenos doci-nhos.

Fazia-se um almoço ou jantar, seguidos por doces variados que eram servidos em pratinhos de sobremesa de fina louça.

Podem imaginar?

A pilha de pratinhos era tão grande que foi preciso dividi-la em três ou quatro para poder acomodar melhor na mesa.

Eram mais de oitenta deles para dar vazão e poder servir todos os convidados.

Coisa inviável hoje em dia.

Eram doces em calda caseiros de todos os tipos, bavaroises, charlo-tes, gelatinas, pudins, pavês, tortas, bolos especiais, etc.

Tudo isso servido depois de uma excelente refeição... rs.

Certo fim de semana, fomos a um churrasco no sítio do tio Hu-go, onde vovó para variar, aprontou mais uma das dela: um festival de frango assado na brasa.

Cada familiar, criança ou amigo presente, recebia um frango assa-do inteiro... para ser degustado com maionese caseira, arroz, faro-fa, salada verde e feijão para aqueles que desejassem...

Que estômagos!

Quando vovô Archimedes, pai de papai, fez cinquenta anos, vovó decidiu preparar-lhe uma festa surpresa.

Ficou pensando no que fazer para agradar-lhe e decidiu por bolos e tortas variadas, já que vovô adorava doces.

Acreditem ou não, fez cinquenta bolos!

De todos os feitios, tamanhos, tipos e sabores possíveis: de maçã, banana, canela, caramelo, chocolate, morango, abacaxi, pêssego, mashmellow, etc. e tal... rs.

A casa inteira rescendia a bolo assado...

Havia bolo em todos  os lugares imagináveis e possíveis, com exce-ção dos banheiros, claro!

Como guardar tudo aquilo, não...?

Depois da festa terminada, bolos e tortas ainda saíam dos armários e cristaleiras como se tivessem asas, pedindo para serem consumi-dos... rs.

Mas, como fato inaudito na vida de todos nós, foi realmente ines-quecível!

Um aniversário onde cantávamos parabéns pra você até não poder-mos mais... com muitas gargalhadas a cada bolo ou torta que nos eram apresentados...

Cantávamos pra valer de tanta alegria e disposição...

Um verdadeiro exagero!

Uma orgia gastronômica da melhor qualidade!

Assim foi viver ao lado de vovó.

Abençoada vovó...

Segundo ela: "família bem alimentada, (qualidade e quantidade...) família feliz"!

Nídia Vargas Potsch
Rio de Janeiro - RJ - 02/08/2007



Fundo Musical: Epcot Theme - Disney
 

 
Anterior Próxima Contos Menu Principal