A engenhoca...


Família gulosa é um caso sério... Principalmente quando se tem uma mistura de avô português, dono de um armazém, com uma avó mineira formada em "forno e fogão", exímia cozinheira... Qual a herança que fica?

Acho que vocês bem podem imaginar...

Comer! Comer! Comer! E Comer muito bem!!! rs rs rs...

Lembram-se de meu tio Dimas? Sempre aprontando das dele...


Certa tarde trouxe para casa uma "engenhoca" de alumínio de fazer sorvete.

Não precisa dizer o tamanho do reboliço e alvoroço que causou na criançada.

Como era princípio de Dezembro, com o Natal se aproximando, e época abundante de frutas, a meninada resolveu experimentar sorvetes variados de diferentes sabores...

Arranjaram bastante sal grosso no armazém e todas as tardes, após o colégio, lá iam elas preparar o sorvete.

Vocês tem alguma ideia de como se fazia sorvete desta maneira?

Colocavam o suco de frutas coado e já adoçado num pequeno recipiente que chamaremos de "leiteira" e cada uma delas ia rodando com as mãos até virar sorvete...

Eis a mágica! E a briga para ver quem rodava primeiro...

Esta leiteira era encaixada num cilindro onde ficavam o gelo e o sal grosso, que muitas vezes devido a afobação das pequenas em ver o sorvete pronto, se misturava ao suco de frutas, causando um estrago tamanho...

Mas era uma alegria e uma delícia depois de pronto.

Sorvete natural! Quem se lembra o que é isso?

Resolveram desse modo experimentar o sorvete de abacaxi, que foi eleito por unanimidade o melhor deles e seguidamente o mais apreciado e consumido... Dito e feito!

Após uma semana, todas as quatro donzelas estavam com suas bocas perdidas em aftas. Que iam da língua ao céu da boca. Tal a gravidade e abuso da fruta ácida...

E isto justamente nas vésperas do Natal...

Vovó não teve dúvidas, varejou a engenhoca no fundo do quintal com toda sua força... Cilindro amassado, impedido de rodar, con-clusão... nada de sorvetes por um longo tempo... rs rs.

Durante dias seguidos só conseguiram comer e se alimentar com mingau de fubá... e o aniversário de mamãe, que era dia vinte e cinco, em pode ser comemorado com a alegria de sempre... Olha-vam as iguarias na mesa e seus olhinhos se enchiam de lágrimas...

Foi o bastante para enternecer o coração do vovô.

Muito humano como ele era, resolveu repetir a dose... e em janeiro do ano seguinte, criou um  Natal especial para as suas meninas, com tudo o que havia de melhor e ainda com mais fartura se pode-se dizer assim...

Como amava suas pequenas filhas...

OBS. O importante  de tudo isso é a lição de amor que recebeemos diariamente e que fica "
armazenada" em nossos corações para sempre.

Saudades de um avô que não cheguei a conhecer...

Nídia Vargas Potsch
Rio de Janeiro - RJ - 26/11/2001



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