Seu Tibúrcio era um mineiro muito amigo de meus bisavós.
Guloso como quê ...
Sempre que tinha que sair da roça para ir à cidade, arranjava um
pretexto para visitar meu bivô Zeferino "por mode de sabê"... se
ele precisava de alguma coisa da cidade grande.
Além de muito amigos Tibúrcio e meu bisavô eram cumpadres. E ele
se achava no direito de aparecer na casa da bisavó à
qualquer hora do dia ou
da noite, principalmente no horário das grandes refeições ou
seja, almoço e
jantar.
Chegava, quando bem entendia e sem cerimônias ia logo puxando a
cadeira da mesa da sala de jantar e tomava imediatamente seu
lu-gar... era muito despachado e vivia contando "causos"
e distraindo todos à sua volta.
Nesta manhã, o almoço era típico mineiro: arroz, feijão, carne
de porco, couve e uma deliciosa farofinha de ovo que que ninguém
fa-zia tão bem quanto a bisa Joaquina.
O cheirinho da comida recém-saída do fogão, espalhava-se pela casa
quando Tibúrcio chegou assoviando contente para anunciar
sua presença. O
truque do assovio, desconfio eu, era para disfarçar seu
estranho modo de falar. Ele falava com os dentes trincados e sua voz saía meio
sibilante... talvez
um vício ou mesmo defeito da fala, não sei ao certo...
Bem recebido como sempre, tomou logo assento à mesa e começou a
contar seus "causos" e comer vorazmente. Parava entre um prato
e outro para tomar fôlego e dizia: Hum! Delicioso! Divino!
E toca a comer e repetir mais
uma vez....rs rs...
Depois do terceiro prato, acho que ele percebeu que estava
exage-rando e para não espantar a todos com seus modos, começou a
co-mer mais devagar... mas sem acanhamento. Estendia o prato para
minha bizinha e dizia: o ovo tá pedindo mais farofa, cumadre...
E lá ia vovó Joaquina para a cozinha preparar mais
um pouquinho de
farofa... Tibúrcio devorava tudo rapidamente e estendia o prato
novamente; Cumadre, não é que a farofa que tá pedindo mais ovo...?
E lá ia vovó pacientemente fritar mais um ovo... Ele comia quase
tudo
deixando sempre um restinho e chamava a bivó novamen-te. Cumadre?
Já sei
Seu Tiburcio. O que é agora, o ovo tá pedindo mais farofa, né?
Não é que cê
advinhou cumadre? É isso sim...
Quando ela levantou pela quarta ou quinta vez, bivô virou-se
para o
cumpadre e disse: amigo, assim não há galinha que aguente! E Tibúrcio, sem
acanhamento algum replicou:
Me desculpe amigo e cumpadre, mas que nem a cumadre, nunca vi cozinheira tão brilhante. A farofa derrete na boca
e o ovo ajuda a molhar e
tempera tudinho... Êta delícia, sô!!! Só mais um pouqui-nho, tá?
Eram inesquecíveis as passagens de Tibúrcio pela casa de meus
bi-savós. Sempre guloso, sempre pedindo mais, repetindo até se fartar e
contando
"causos" intrigantes e que mexiam com o imagi-nário de todos.
A partir daquele dia as crianças só queriam farofa de
ovo à la Cumpadre Tibúrcio. Com direito a repetir três vezes...