Sapatinhos de Porcelana


Havia uma loja de presentes, dentre eles, uma miniatura de um par de sapatinhos de porcelana, na cor azul marinho, lindos!

Objeto admirado e imaginado, em meus pés!

Pensava, quando for moça, usarei um igual...

Enquanto isto não acontecia, me contentava em calçar os sapatos de salto alto de minha mãe, saía arrastando-os pela casa.

Na véspera de um Dia das Mães, pedi dinheiro ao meu pai, para comprar um presente à ela.

Lembro-me que, chovia muito, ruas sem calçamento, escorregadias e lá vinha eu, feliz equilibrando o guarda-chuva contra a ventania e, o pacote contendo meu cobiçado objeto.

Foi quando escorreguei e cai, ouvindo o barulho, característico de louça quebrada...

Posso imaginar meu desapontamento!

Ali mesmo sentada no barro, desfiz o pacote, um dos sapatinhos es-tava fragmentado, o outro, com pequeno lascado.

A loja estava fechando as portas, assim que saí, não adiantaria eu lá retornar, o jeito foi seguir em frente. Sentia-me frustrada, pen-sei em deixar o presente na lama, mas como ficaria minha mãe, não ganharia nada?

Invadia-me, uma sensação de raiva e vergonha...

Assim ao chegar em casa, molhada, enlameada e chorando entre-guei o presente à minha mãe dizendo que, o havia comprado por achar bonito mas, que com o tombo, ele tinha se quebrado!

Com carinho, ela abraçou-me dizendo, filha, meu maior presente, Deus já me concedeu, foi você...

Jogue estes cacos fora, para não se machucar enxugue as lágrimas, (eram um par, ainda restou um!)

E sem dizer mais nada, foi buscar o tinteiro, na época, para escre-ver usava-se tinta, na cor azul marinho escuro.

Um horror, escrever com àquelas canetas acopladas em penas de metal, as crianças sofriam...

Com auxílio de algodão enrolado em palito de fósforo e a tinta, ela cobriu a parte lascada da porcelana, deixando-a quase que imper-ceptível.

Assim era minha mãe, raciocínio rápido encontrava solução imedia-ta, para quase tudo. A peça em questão permaneceu sobre a cris-taleira, por longos e longos anos, até que um dia quebrou-se, em uma mudança.

Momentos que, ainda hoje fazem parte de boas lembranças...

Nadir A. D'Onofrio
Serra Negra - SP - 08/05/2011 - 16:42 hs


 

 
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