Em tempos idos, fui pela enésima vez ao Clube Estrela em que era
proibida a entrada de crianças com menos de cinquenta anos.
Adorava aquelas saudosas noitadas e essa era, sem dúvida, especial e
histórica. Teríamos a apresentação do emérito e virtuo-so pianista
Pedrinho Mattar, brindado-nos com seu seleto repertó-rio musical.
Reservamos com antecedência uma mesa bem localizada e, vez por outra,
dançávamos enlevados ao som das músicas entoadas pelo mestre, arrancadas
em notas mágicas do seu famoso piano.
Lá pelas tantas, Pedrinho sempre gentil para com seus fãs, fa-cultava
aos frequentadores de seus espetáculos, àqueles que se achassem capazes,
subirem ao palco e cantar acompanhados por ele. Não me fiz de rogado e,
após confabularmos, ficou acertado que eu cantaria “Sempre
no Meu Coração”.
Quando menos idoso, cantava muito esta música no banheiro, na hora dos
meus banhos, cuja letra estava por mim mais do que decorada.
Perguntou-me qual o tom por mim preferido e eu não soube dizê-lo. Aí
cantarolei um pedacinho da letra e ele descobriu a nota adequada à minha
voz. Não me lembro, mas foi algo parecido com dó menor ou adjacências.
Combinamos que eu cantaria e ele corre-ria atrás para me acompanhar, o
que arrancou risos da plateia.
Agora, passados alguns anos (O
querido artista nos deixou em fevereiro de 2007),
achei no álbum musical do meu computador a mesma música por ele gravada
e resolvi repetir aquela minha sau-dosa e distante “apoteótica
apresentação”,
gravando emocionado o que vocês escutam neste momento. Peço que, ao
ouvirem-me, sejam benevolentes comigo, esquecendo Anísio Silva, Antonio
Mar-cos, Orlando Silva e outros magistrais intérpretes dessa canção.
Agora, nada mais me resta falar senão do passado! É arran-cando dele
grandiosos pequenos pedaços que vivencio e torno feliz o meu presente.
Aqueles que tiveram a paciência de me ler e ouvir, meus sin-ceros
agradecimentos, beijos e abraços.
Ary Franco
(O Poeta Descalço)
Fundo Musical: Sempre no meu Coração