Louvor a um amor fiel


Louvor a um amor fiel

(Conto dramatizado baseado em fato acontecido décadas atrás)

        Em uma cabana no meio da floresta vivia um ancião, tendo por única companhia sua cadela de estimação. Por muitos anos re-cebia visitas esporádicas de caçadores que levavam-lhe mantimen-tos em troca de eventuais pernoites.

        Certa vez um dos caçadores encontrou o idoso morto em seu catre e ao seu lado a cadela velando seu corpo. Condoído com a cena, juntou-se com outros amigos e providenciaram o funeral se-pultando o corpo do velhinho no cemitério mais próximo.

        Ninguém prestava atenção à cadela esquálida que acompa-nhava o féretro até a sepultura onde foi enterrado o corpo de seu amado dono.

        Terminadas as exéquias e, com a sensação do dever cumpri-do, cada um retornou às suas casas mas a cadela aboletou-se sobre a lápide sepulcral dia após dia, noite após noite. Afinal ela sabia que ali embaixo, sete palmos de terra cobriam o corpo do seu dono.

        Aqueles que trabalhavam no cemitério, principalmente os co-veiros, sensibilizados com a fidelidade e desprendido amor da cadelinha, adotaram-na levando-lhe alimento e água diariamen-te. Bem junto ao  túmulo havia uma frondosa árvore onde no iní-cio ela buscava abrigo durante as intempéries e o abrasante sol.

        Apesar de não haver registro da existência de qualquer paren-te do falecido, a notícia do perene velório canino se espalhou e a sepultura passou a ser a mais visitada pelos curiosos que lá afluíam, admirando aquele exemplo de fidelidade, jamais igualado ao de qualquer ser humano. Aproveitando, oravam pela alma da-quele desconhecido ali sepultado.

        Durante as noites que se seguiam o vigia já se acostumara aos lânguidos uivos da cadela que os fazia com a cabeça erguida para o alto como que suplicando aos céus a volta de seu amo.

        Pouco a pouco a cadela começou a saciar seu apetite com pouquíssima comida, abstendo-se finalmente da alimentação. Pou-cos dias depois, durante uma violenta nevasca, a cadela sucumbiu sobre a lápide, vencida pela irracional saudade, e o corpo dela foi enter-rado junto à árvore que tantas vezes lhe serviu de abrigo e bem próxima do seu amado dono.

Ary Franco
(O Poeta Descalço)




Fundo Musical: September Song - Violinos Mágicos
 

 
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