Em Busca da Felicidade - 6ª Parte


Continuação

(6ª Parte)

       Assim que Marcela adentrou o salão da recepção, veio ao seu encontro uma senhora recepcionista para cumprimentá-la, dando-lhe um íntimo mas moderado abraço de boas vindas.

       Logo em seguida dirigiu a Olavo um olhar interrogativo e foi apresentado como sendo um amigo colaborador e voluntário.

       Imediatamente foram autorizados a visitar as enfermarias.

       Olavo entregou a sacola à Marcela e no caminhar pelo corre-dor, ela explicou-lhe que dava preferência a brinquedos de pelú-cia, menos perigosos de causar arranhões na frágil pele dos anjos que ali estavam.

       Os comerciantes também facilitavam-na com preços baixos e até doando alguns brinquedos, cônscios do fim a que se destina-vam.

       __ Estou fascinado com seu altruísmo e amor ao próximo, que-rida.

       __ Nada faço além de alegrar-me com cada sorriso que consigo arrancar desses rostinhos sofredores, querido.

       Ao entrarem na primeira enfermaria, Olavo calculou uns qua-renta leitos, nem todos ocupados.

       Alguns anjos carequinhas vieram ao encontro deles, cada um trajando seus pijamazinhos azuis ou cores de rosa, dependendo do sexo.

       Abraços, beijinhos e lágrimas foram trocados.

       Marcela abriu a sacola e foi dando bonequinhas para as meni-nas e ursinhos para os meninos; felizes eles voltavam para seus leitos e deitavam-se abraçados aos presentes.

       Olavo debulhava-se em lágrimas, chegando a soluçar.

       __ Querido, prepare agora seu coração.

       Ela, puxando-o pela mão, conduziu-o à enfermaria vizinha.

       Olavo novamente num olhar panorâmico calculou uns trinta leitos.

       Todos ocupados!

       Em cada um lá estava um anjo aprisionado à parafernália de tubos e soros.

       Nenhum pôde ir ao seu encontro, o silêncio era insuportável!

       __ Querida, quero voltar! Balbuciou Olavo.

      __ Seja forte! Eles precisam de nossa presença e de nossas preces. Venha!

       Cumprimentando enfermeiras e médicos, pararam de leito em leito.

       Alguns anjos abriram os olhos para eles, outros, nem isso. Eventualmente, poucos conseguiam sorrir sem nada dizer e Marcela depositava o presente de pelúcia ao lado desses, de forma que pu-dessem olhar para ele.

       __ Querida, eles são pacientes terminais? Sem esperanças?!

       __ Só Deus poderá te responder, querido. Vamos!

       Aquele que saiu do COI não foi Olavo e nem o Dr. Wellington, era uma pessoa completamente diferente.

       Outra visão panorâmica do Mundo, outro pensar sobre seus se-melhantes, sentimentos novos adquiridos com uma sublime e ines-quecível lição.

       Três taxis estavam à espera de passageiros, um deles era o “abelhudo”.

       Escolheram-no e deram como destino o endereço da casa de Marcela.

       Acomodados no banco traseiro, sacola quase vazia e os cora-ções repletos de amor e impotência de poder fazer algo mais obje-tivo pelos anjinhos deixados para trás.

       Olavo mantinha-se de cabeça baixa, pensamento e consciência perdidos no além do horizonte de seus planos.

       Doravante iria muito fazer pelo próximo e contava com Marce-la ao seu lado para levar avante seus sonhos.

       Sem ela, sabia que se perderia como um deficiente visual sem ter quem lhe desse a mão.

       __ Em que estás pensando, querido?

       __ O que será de mim sem você ao meu lado. Preciso de sua companhia para o resto da minha vida. Choro só de pensar em lhe perder.

       Trocaram beijos e lágrimas ao som da romântica música que o “abelhudo” colocou a tocar bem baixinho.

       Dessa vez não houve manobras bruscas e chegaram bem ao destino.

       Seu Henrique, o motorista, apressou-se em abrir a porta do carro para Marcela, deu seu cartão com o número do telefone para Olavo e fez uma mesura para Olavo ao receber o pagamento da corrida com outra polpuda gorjeta.

       Dona Magda esperava-os na varanda, sentada numa cadeira de balanço, sem o avental e usando um lindo e discreto vestido.

       __ Demoraram!

       __ A benção, mãe!

       __ Deus te abençoe!

       __ Passamos no COI e deixamos uns mimos para as crianças.

       __ Dona Magda, não trouxe flores, mas trouxe meu respeitoso cumprimento à senhora (e beijou-lhe a mão).

       __ Sr. Olavo, vamos entrar e fique à vontade.

       __ Vou aceitar Dona Magda. Hoje é um dia muito especial e precisamos conversar demoradamente sobre um assunto muitíssimo importante. Talvez o mais importante da minha vida.

       Ao seu lado, Marcela concordou com o sorriso mais lindo e en-ternecedor de todos os sorrisos que em seu rosto Olavo já tinha visto noutros dias.

FIM DA SEXTA PARTE

Ary Franco
(O Poeta Descalço)

Continua na Próxima Página



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