Assim que Marcela adentrou o salão da recepção, veio ao seu encontro uma senhora
recepcionista para cumprimentá-la, dando-lhe um íntimo mas moderado abraço de
boas vindas.
Logo em seguida dirigiu a Olavo um olhar interrogativo e foi
apresentado como sendo um amigo colaborador e voluntário.
Imediatamente foram
autorizados a visitar as enfermarias.
Olavo entregou a sacola à Marcela e no caminhar pelo corre-dor, ela explicou-lhe
que dava preferência a brinquedos de pelú-cia, menos perigosos de causar
arranhões na frágil pele dos anjos que ali estavam.
Os comerciantes também
facilitavam-na com preços baixos e até doando alguns brinquedos, cônscios do
fim a que se destina-vam.
__ Estou fascinado com seu altruísmo e amor ao próximo, que-rida.
__ Nada faço além de alegrar-me com cada sorriso que consigo arrancar desses
rostinhos sofredores, querido.
Ao entrarem na primeira enfermaria, Olavo calculou uns qua-renta leitos, nem
todos ocupados.
Alguns anjos carequinhas vieram ao encontro deles, cada um
trajando seus pijamazinhos azuis ou cores de rosa, dependendo do sexo.
Abraços,
beijinhos e lágrimas foram trocados.
Marcela abriu a sacola e foi dando bonequinhas para as meni-nas e ursinhos para
os meninos; felizes eles voltavam para seus leitos e deitavam-se abraçados aos
presentes.
Olavo debulhava-se em lágrimas, chegando a soluçar.
__ Querido, prepare agora seu coração.
Ela, puxando-o pela mão, conduziu-o à enfermaria vizinha.
Olavo novamente num
olhar panorâmico calculou uns trinta leitos.
Todos ocupados!
Em cada um lá
estava um anjo aprisionado à parafernália de tubos e soros.
Nenhum pôde ir ao
seu encontro, o silêncio era insuportável!
__ Querida, quero voltar! Balbuciou Olavo.
__ Seja forte! Eles precisam de nossa presença e de nossas preces. Venha!
Cumprimentando enfermeiras e médicos, pararam de leito em leito.
Alguns anjos abriram os olhos para eles, outros, nem isso. Eventualmente, poucos
conseguiam sorrir sem nada dizer e Marcela depositava o presente de pelúcia ao
lado desses, de forma que pu-dessem olhar para ele.
__ Querida, eles são pacientes terminais? Sem esperanças?!
__ Só Deus poderá te responder, querido. Vamos!
Aquele que saiu do COI não foi Olavo e nem o Dr. Wellington, era uma pessoa
completamente diferente.
Outra visão panorâmica do Mundo, outro pensar sobre
seus se-melhantes, sentimentos novos adquiridos com uma sublime e ines-quecível
lição.
Três taxis estavam à espera de passageiros, um deles era o “abelhudo”.
Escolheram-no e deram como destino o endereço da casa de Marcela.
Acomodados no
banco traseiro, sacola quase vazia e os cora-ções repletos de amor e impotência
de poder fazer algo mais obje-tivo pelos anjinhos deixados para trás.
Olavo mantinha-se de cabeça baixa, pensamento e consciência perdidos no além do
horizonte de seus planos.
Doravante iria muito fazer pelo próximo e contava com
Marce-la ao seu lado para levar avante seus sonhos.
Sem ela, sabia que se
perderia como um deficiente visual sem ter quem lhe desse a mão.
__ Em que estás pensando, querido?
__ O que será de mim sem você ao meu lado. Preciso de sua companhia para o resto
da minha vida. Choro só de pensar em lhe perder.
Trocaram beijos e lágrimas ao som da romântica música que o “abelhudo” colocou a
tocar bem baixinho.
Dessa vez não houve manobras bruscas e chegaram bem ao
destino.
Seu Henrique, o motorista, apressou-se em abrir a porta do carro para
Marcela, deu seu cartão com o número do telefone para Olavo e fez uma mesura
para Olavo ao receber o pagamento da corrida com outra polpuda gorjeta.
Dona Magda esperava-os na varanda, sentada numa cadeira de balanço, sem o
avental e usando um lindo e discreto vestido.
__ Demoraram!
__ A benção, mãe!
__ Deus te abençoe!
__ Passamos no COI e deixamos uns mimos para as crianças.
__ Dona Magda, não trouxe flores, mas trouxe meu respeitoso cumprimento à
senhora (e beijou-lhe
a mão).
__ Sr. Olavo, vamos entrar e fique à vontade.
__ Vou aceitar Dona Magda. Hoje é um dia muito especial e precisamos conversar
demoradamente sobre um assunto muitíssimo importante. Talvez o mais importante
da minha vida.
Ao seu lado, Marcela concordou com o sorriso mais lindo e en-ternecedor de todos
os sorrisos que em seu rosto Olavo já tinha visto noutros dias.
FIM DA SEXTA PARTE