Em Busca da Felicidade - 5ª Parte


Continuação

(5ª Parte)

       Olavo chegou à pousada às 12:20h. Suado, subiu direto ao seu quarto para um banho rápido. Queria avistar-se com Marcela e al-moçar. Durante o banho pensou o quanto lhe fazia falta a sauna de sua mansão naquele momento. Sobre sua cama a roupa lavada e passada displicentemente jogada pela Gertrudes.

       Desceu apressado para o refeitório e viu a mesa que normal-mente usava, reservada com uma cadeira inclinada. Meio desorien-tado, olhou em volta e dirigiu-se à Marcela.

       __ Boa tarde, querida. “Minha mesa” está reservada, irei sen-tar-me em outra – OK?

       __ Boa tarde, Olavo. Achei que estava demorando e, por pre-caução, reservei-a para você. É sua! Pode sentar-se.

       __ Puxa, você não se esqueceu de mim. Obrigado!

       __Tenho boa memória e não costumo esquecer as coisas boas (rimos).

       Sentado à mesa, Olavo suspirou um suspiro apaixonado que saiu-lhe do peito repleto de felicidade e esperanças. Sempre nos almoços havia dois PF (prato feito) para o hóspede optar, mas o dele era sempre escolhido por Marcela.

       __ 14:30h?

       __ Não antes disso...

       __ Estarei esperando...

       Terminado o almoço, Olavo subiu para seus aposentos e fez a sesta até o limite máximo do tempo de que dispunha. Às 14:40h já estavam juntos caminhando de mãos dadas. Tomou das mãos dela uma sacola, embora grande, não muito pesada.

       __ Mamãe está achando que você não é quem tenta parecer. Suas mãos bem cuidadas, as flores que nos foram dadas, seu jeito polido e cavalheiresco... Diga-me, quem é você Olavo? Como apa-receu tão de repente em minha vida?!

       Marcela disse-lhe isso a queima-roupa, interrompendo o pas-seio e olhando-o fixamente nos olhos.

       __ Digamos que eu seja um vendedor bem sucedido, ajudado por Deus. Você ficaria satisfeita com esta minha resposta?

       __ Não! Preciso saber de algo muito importante para mim, já que sinto nascer em mim um sentimento por você que está cami-nhando para mais do que uma simples amizade.

       __ Pergunte então; juro que direi a verdade!

       __ Você é casado?

       Respirou aliviado, quando viu que a indagação poderia ser res-pondida sem a quebra do seu intempestivo juramento.

       __ Viúvo! Minha esposa faleceu ainda jovem, vítima do trágico parto de um natimorto. Sou órfão; perdi meus pais num desastre aéreo. Esta é a história de minha vida. Desde há muito venho me esforçando para reconstituir minha Família, procurando minha al-ma gêmea, vendo-a finalmente em você. Satisfeita com minha res-posta?

       __ No que me concerne fico satisfeita, mas lamento essa odis-seia pela qual você passou.

       __ OK! Agora vamos às boas notícias: o patrão resolveu pagar-me as comissões a que eu fazia jus pelas vendas que efetuei neste mês, sendo assim, aqui estão os R$ 260,00 que você gentilmente me emprestou e com eles vão meus sinceros agradecimentos pela oportuna ajuda.

       __ Mas já?! Antes de acompanhar-me até em casa, você quer fazer uma visita comigo?

       __ Tendo você por companhia irei a qualquer lugar com o má-ximo prazer.

       __ É um pouco afastado e com você carregando esta sacola, seria bom pegarmos um táxi.

       __ Ótima sugestão!

       Naquela pequena cidade os táxis não usavam taxímetros e as corridas eram estipuladas de acordo com o percurso. Logo a seguir tinha um ponto e Marcela pediu ao motorista que os levasse ao COI. A sacola foi colocada no porta-malas e lá se foi o casal acon-chegado no banco traseiro.

       __ Olavo, prepare-se para sentir uma das maiores emoções de sua vida.

       __ Escutei quando você mencionou ao chofer o nosso destino e um arrepio já me percorreu a espinha eriçando os cabelos de mi-nha nuca, querendo saber o significado das três letrinhas.

       __ Semanalmente eu vou e esse hospital, Centro de Oncologia Infantil, e levo brinquedos variados para as crianças que lá estão internadas, vítimas do câncer. Uso todo o dinheiro que ganho de gorjetas nessas compras e recebo como pagamento abraços e sorri-sos daquelas cabecinhas raspadas. A Direção do hospital não permi-te que se leve alimentos, então compro aquilo que nos satisfaz mu-tuamente.

       Olavo foi tomado por uma overdose de emoções. Vergonha de sonegar gorjetas para camuflar-se no personagem de pessoa de posses remediadas, admiração pelo espírito altruístico de Marcela e, com os olhos marejados, inclinou-se e beijou-a pela vez primei-ra nos lábios. Havendo reciprocidade no seu ímpeto incontido, o beijo foi mais demorado. O motorista que a tudo escutava e pelo espelho retrovisor interno observava, ligou o som baixinho com u’a música romântica, fazendo as vezes de um voluntário cupido.

       __ Você está chorando?

       __ Como nunca! Você é minha alma gêmea, a metade que tenho procurado nesses últimos anos. Meu amor, minha vida!

       __ Isso é uma declaração de amor?

       __ Sim! E caso você concorde, hoje mesmo pedirei sua mão à Dona Magda, em casamento.

       __ Você não acha melhor pensar mais sobre essa decisão?

       O motorista quase bateu num carro que vinha em sentido con-trário, com seu olhar fixo no espelho retrovisor. Meio encabulado, pediu desculpas pelo golpe de direção que foi obrigado a dar para evitar a colisão.

       __ Pensar?! Você é tudo que quero neste mundo! Por favor, aceite! Não posso me ajoelhar no chão do carro.

       __ Aceito! Também te amo, desde a primeira vez que te vi. Chamam isso de amor à primeira vista, não?!

       A resposta foi a troca de mais um beijo prolongado seguido de outra manobra brusca dada pelo “motorista abelhudo”.

       O percurso não chegou a durar quinze minutos, mas tanta coisa determinante aconteceu em tão pouco tempo. O táxi entrou por um grande portão de ferro escancarado, passou por uma curta alameda com margens ajardinadas e parou na entrada principal do COI. Enquanto o motorista abria o porta-malas, Olavo deu uma rápida volta no carro e abriu a porta para Marcela apear seguran-do-lhe a mão carinhosamente, pegou a sacola e pagou a corrida com generosa gorjeta. Estava embriagado de felicidade!

FIM DA QUINTA PARTE

Ary Franco
(O Poeta Descalço)

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