Em Busca da Felicidade - 4ª Parte


Continuação

(
4ª Parte)

       Olavo desceu para o refeitório lá pelas 8:00h e pensou em Marcela na cozinha, às voltas com sua faina culinária. O café da manhã era oferecido aos hóspedes à moda “self-service”. Ele esco-lheu o que lhe pareceu mais apetitoso e procurou uma mesa vaga, com a bandeja bem suprida nas mãos. Procurou comer bem lenta-mente na esperança de sua admirada aparecer. Sem lograr êxito, desistiu e saiu meio entristecido.

       Quebrando a regra que ele mesmo lhe impôs, às 8:40h deu uma passada no caixa eletrônico do Banco e sacou R$12.000,00 para “despesas imediatas e eventuais”. Logo em seguida iniciou suas voltas pelos quarteirões próximos, buscando aprender aquilo que a vida ainda tinha para ensinar-lhe.

       Até as 10:20h, nada lhe chamando a atenção, resolveu com-prar o jornal e sentar-se no banco da praça para lê-lo. Tinha que enganar o tempo para ver Marcela na hora do almoço. Mal tinha li-do as manchetes, sentiu uma mãozinha sopesando umas moedas cutucar-lhe o braço.

       __ Moço, pode me dar uma ajuda?

       __ Quantos anos você tem?

       __ Nove

       __ Qual seu nome?

       __ Pedro

       __ Isso não é hora de você estar no colégio?

       __ Eu só vou de tarde. De manhã ajudo mamãe a ganhar um dinheirinho pra gente comer.

       __ Você não tem pai?

       __ Tinha. Mas ele largou nóis.

       __ Onde está sua mãe?

       __ Ali! E apontou seu dedinho para uma senhora aparentando estrema penúria, considerando seu mal trajar.

       __ Como ela se chama?

       __ Glória

       __ Eu vou dar uma ajuda, mas não quero que você ache que é uma esmola. Estou pagando uma aula que você acaba de me dar sobre um mundo que sempre mantive em minhas costas, negando-me a aceitar sua existência.

       Olavo pegou uma nota de R$100,00 e entregou-a para o Pedro.

       __ Que é isso? Isso não vale!

       __ Esse papel aí é a mesma coisa que um montão de moedas. Leva agora e entrega pra sua mamãe. Combinado?

       Meio desconfiado ele olhou para aquele papel azulado e foi ao encontro da senhora sua mãe. A distância e o barulho do chafariz impediu-o de ouvir o diálogo de ambos. Ela pegou a nota, exami-nou-a frente e verso e fez uma pergunta ao filho. Pedro apontou para Olavo que deu um “tchauzinho” para ambos.

       Para surpresa de Olavo, ao invés deles continuarem sua men-dicância, vieram ao seu encontro. De pé ele recebeu-os.

       __ O Sr. deu esta nota pro meu filho? Ela é de verdade? Não quero confusão com a “poliça”.

       __ Pode ficar tranquila Da. Glória. A nota é verdadeira e espe-ro que essa quantia lhe ajude de alguma forma.

       __ Vai ajudar muito e peço que Deus o ajude também.

       Pedro que assistia a tudo quietinho, interrompeu o diálogo pu-xando o vestido da mãe.

       __ Mamãe, esse dinheiro dá pra gente comprar o remédio da tia?

       Dona Glória, sem nada dizer, balançou afirmativamente com a cabeça e de seus olhos rolaram lágrimas, lágrimas de uma criatura sofredora, marginalizada por uma sociedade egoísta e indiferente aos seus semelhantes.

       __ Que remédio é esse, Dona Glória?

       __ Minha irmã sofre do coração e precisa tomar pra ele conti-nuar batendo certo.

       __ Olha, vamos combinar uma coisa: A senhora fica com mais esta outra nota igual e compra o tal remédio. Certo?

       Soluçando muito, Da. Glória esticou sua mão para um aperto de mãos e Olavo puxou-a para um abraço emocionado. Ela falou baixinho ao pé do seu ouvido: O Sr. é um enviado por Deus!

       __ Ide em paz e não desista jamais!

       Lá se foram mãe e filho de mãos dadas para prosseguir o ca-minho que a eles foi destinado, caminho árduo e que somente os fortes são capazes de percorrê-lo até seu final, levantando-se a cada queda sem quaisquer mãos para ajudá-los e se reerguerem.

       Nesse exato instante, o sino da igreja badalou 12:00h e Olavo apressou-se rumo à pousada. Hora do almoço! Hora de encontrar Marcela! Passadas largas, coração acelerado, carregado de felicida-de e esperanças...

FIM DA QUARTA PARTE

Ary Franco
(O Poeta Descalço)

Continua na Próxima Página



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