Durante o tradicional cafezinho com biscoitos, Olavo pigarreou e dirigiu-se à
Da. Magda com o falar mais solene e respeitoso que podia dispensar a uma pessoa.
__ Da. Magda, nestes últimos dias tenho tido a ventura de li-dar com sua filha,
admirando cada vez mais a retidão de seu cará-ter, ser humano que reúne virtudes
raras de serem encontradas. Juntando a tudo isso sua beleza externa que muito me
cativou e que passei também a amar. Tenho sido agraciado por Marcela com a
reciprocidade desses meus sentimentos e posso concluir que nos amamos, que nos
completamos... Dessa forma, venho respeitosa-mente pedir a mão de sua filha em
casamento. Antes que a senho-ra responda algo, quero afirmar que se meu pedido
for aceito, a senhora não terá em mim um genro e sim mais um filho que muito lhe
admira, desde a primeira vez em que fomos apresentados.
O silêncio que se fez em seguida foi quebrado por um soluçar de Marcela que
estendeu sobre a mesa uma das mãos para seu pre-tendente e outra para Da. Magda.
Naquele momento veio à mente de Olavo o aperto de mão que recebeu na triste
despedida de Yo-landa e uma sensação benfazeja invadiu-lhe de que ela estava
presente e que aprovava o que fazia. Isso fez com que ele também se emocionasse.
__ Sr. Olavo, o senhor tem condições financeiras para consti-tuir uma família?
__ Mamãe, ele ganha comissões sobre as vendas que faz de aparelhos
eletrodomésticos e eu vou continuar trabalhando na pou-sada, mais a pensão que a
senhora recebe, podemos viver muito bem, talvez até melhor.
__ Da. Magda, quanto a isso não se preocupe. Garanto que tudo dará certo. Não me
falta disposição para lutar e vencer. Acre-dite! Confie em mim!
__ Bem, se minha filha está de acordo em dar esse passo deci-sivo em sua vida,
concordo.
Em seguida ela levantou-se e abraçou Olavo e a filha, num trí-plice abraço. Os
três tinham os olhos marejados pela emoção da felicidade reinante naquele
momento.
__ Quero aproveitar para sugerir que comemoremos amanhã, em alto estilo num
jantar, esta ocasião tão importante em nossas vidas. São minhas convidadas e
então levarei as alianças do noiva-do agora oficializado. Por falar nisso, peço
que Marcela me em-preste um anel seu para servir de medida. O que acham da
ideia? Não aceito recusas!
__ Posso responder pela mamãe que aceitamos com muito gos-to. Será ótimo!
Marcela levou Olavo até o portão e sob a luz de um romântico luar trocaram
beijos apaixonados.
__ Querido, você não acha que está gastando muito? Não exa-gere! Daqui pra
frente temos que começar a economizar para o nosso casamento.
__ Não se preocupe querida, também tenho guardado um “pé
de meia” que me
permite certos gastos moderados.
Dois beijos depois, Olavo voltou para a pousada. Passou pela portaria, pegou a
chave do seu quarto e ligou do celular para o “abelhudo”.
__ Seu Henrique, preciso do senhor amanhã por tempo inte-gral. Faça o possível
de chegar aqui na pousada Ipê Amarelo onde estou hospedado. Por volta das 8:00h.
Pode ser?
__ Claro! Conte comigo e obrigado.
Sem conseguir ver sua noiva, desjejum tomado, faltando pou-co para a hora
marcada, Olavo já estava sentado no táxi, ao lado do “abelhudo”.
__ Bom dia, seu Henrique. Leve-me à melhor ourivesaria que o senhor conhece.
Temos um dia muito atarefado hoje.
Meia hora depois, as alianças já estavam compradas (com pa-gamento à vista, em
dinheiro, tudo torna-se mais fácil). Olavo pen-sou em mandar gravar os nomes
deles, mas não podia constar na aliança dela o verdadeiro nome Wellington.
__ Agora leve-me ao melhor restaurante que o senhor conhe-ce.
__ Desculpe-me. Conheço um, mas acho que é muita areia pa-ra o seu caminhão.
__ Ótimo! Vamos lá!
Por volta das 10:00h a mesa já estava escolhida e reservada para o jantar.
Realmente o ambiente do “La Violetera” era requin-tado, com música ao vivo,
paredes espelhadas, lustres de cristais pingentes, piso atapetado e com pista de
dança. Ficou sabendo que o serviço era atendido por um maitre poliglota e
garçons uni-formizados. Pedindo absoluto sigilo, deixou o cartão de visitas do
Dr. Wellington com o proprietário e solicitou que um violinista fos-se até a
mesa dele e tocasse a música Charmaine, logo após a re-feição e antes da
sobremesa. Para garantir que tudo seria feito co-mo combinado, deixou um sinal
de R$ 2.000,00.
__ Seu Henrique, leve-me ao melhor salão de barbeiro da ci-dade.
__ Ficaram noivos, né?
__ Como foi que adivinhou? (riram)
Às 11:50h Olavo estava de barba raspada, cabelo cortado, unhas feitas, rosto
massageado. O “abelhudo” quase não o reco-nheceu.
__ Seu Henrique, vamos nos reencontrar às 14:30h aqui na porta da pousada. Não
se atrase, por favor.
__ OK!
Olavo teve que pedir a chave do quarto ao recepcionista que ficou meio
aparvalhado com a mudança de aspecto do hóspede. Às 12:30h estava sentado à sua
mesa reservada no refeitório pela Mar-cela. Quando ela o viu, quase deixou o PF
cair no chão.
__ Que belo rosto você levava escondido sob aquela barba!
__ Você me deixa encabulado. Não estou afeito a elogios, principalmente aos
sinceros. Antes de lhe conhecer, vivia cercado de bajuladores e não podia
acreditar nas boas críticas recebidas sobre minha pessoa.
__ Vamos conversar às 14:30h – OK?
__ Claro que sim!
Quando Marcela saiu às 14:40h, Olavo beijou-a e conduziu-a ao táxi. Pediu ao
“abelhudo” que o levasse a um magazine de rou-pas masculinas.
__ Querida, hoje o dia está atribulado. Eu vou fazer umas compras e o seu
Henrique vai ficar à sua disposição. Quero você e Dona Magda bem produzidas num
salão de beleza, mais lindas do que são, se é que isso seja possível. Vou deixar
com você R$ 500,00 para essas despesas. Quando for umas 20:00h vou pegá-las em
casa para irmos ao nosso jantar no “La Violetera”.
__ Você ficou louco? Esse restaurante é muito sofisticado e tu-do é muito caro.
__ Querida, eu quero comemorar nosso noivado em alto estilo. Por favor, não
recuse esse meu desejo.
Logo em seguida Olavo saltou na porta do magazine e deu um adeusinho para sua
amada que estava meio desorientada com a mudança brusca do seu noivo “doidivanas”.
Olavo comprou um blazer azul marinho, calça preta, camisa de colarinho, uma
gravata de seda italiana e um par de sapatos de cromo alemão. Pegou um táxi e
foi direto para a pousada.
O recepcionista, pela vez primeira, entregou em sua mão a chave do quarto, sem
jogá-la sobre o balcão. Ele arrumou tudo so-bre a cama e tornou a sair para ir
ao Banco. Pegou mais um “refor-ço
monetário” dos
R$12.000,00 que já estavam bem diminuídos e voltou ao seu aposento a fim de se
preparar para a grande noite. Por volta das 19:30h ligou para o seu Henrique e
pediu-lhe notícias.
__ Deixei a sua noiva e a mãe dela em casa, de volta do salão de beleza, lá
pelas 18:00h.
__ Ótimo! Você já jantou?
__ Comi um sanduíche com guaraná e estou satisfeito.
__ Então, pode vir para a pousada que eu estou me preparan-do.
__ Já estou aqui na porta, seu Olavo.
__ Puxa, fiz bem em escolher você para me ciceronear. Até já!
FIM DA SÉTIMA PARTE