Em Busca da Felicidade - 7ª Parte


Continuação

(7ª Parte)

       Durante o tradicional cafezinho com biscoitos, Olavo pigarreou e dirigiu-se à Da. Magda com o falar mais solene e respeitoso que podia dispensar a uma pessoa.

       __ Da. Magda, nestes últimos dias tenho tido a ventura de li-dar com sua filha, admirando cada vez mais a retidão de seu cará-ter, ser humano que reúne virtudes raras de serem encontradas. Juntando a tudo isso sua beleza externa que muito me cativou e que passei também a amar. Tenho sido agraciado por Marcela com a reciprocidade desses meus sentimentos e posso concluir que nos amamos, que nos completamos... Dessa forma, venho respeitosa-mente pedir a mão de sua filha em casamento. Antes que a senho-ra responda algo, quero afirmar que se meu pedido for aceito, a senhora não terá em mim um genro e sim mais um filho que muito lhe admira, desde a primeira vez em que fomos apresentados.

       O silêncio que se fez em seguida foi quebrado por um soluçar de Marcela que estendeu sobre a mesa uma das mãos para seu pre-tendente e outra para Da. Magda. Naquele momento veio à mente de Olavo o aperto de mão que recebeu na triste despedida de Yo-landa e uma sensação benfazeja invadiu-lhe de que ela estava presente e que aprovava o que fazia. Isso fez com que ele também se emocionasse.

       __ Sr. Olavo, o senhor tem condições financeiras para consti-tuir uma família?

       __ Mamãe, ele ganha comissões sobre as vendas que faz de aparelhos eletrodomésticos e eu vou continuar trabalhando na pou-sada, mais a pensão que a senhora recebe, podemos viver muito bem, talvez até melhor.

       __ Da. Magda, quanto a isso não se preocupe. Garanto que tudo dará certo. Não me falta disposição para lutar e vencer. Acre-dite! Confie em mim!

       __ Bem, se minha filha está de acordo em dar esse passo deci-sivo em sua vida, concordo.

       Em seguida ela levantou-se e abraçou Olavo e a filha, num trí-plice abraço. Os três tinham os olhos marejados pela emoção da felicidade reinante naquele momento.

       __ Quero aproveitar para sugerir que comemoremos amanhã, em alto estilo num jantar, esta ocasião tão importante em nossas vidas. São minhas convidadas e então levarei as alianças do noiva-do agora oficializado. Por falar nisso, peço que Marcela me em-preste um anel seu para servir de medida. O que acham da ideia? Não aceito recusas!

       __ Posso responder pela mamãe que aceitamos com muito gos-to. Será ótimo!

       Marcela levou Olavo até o portão e sob a luz de um romântico luar trocaram beijos apaixonados.

       __ Querido, você não acha que está gastando muito? Não exa-gere! Daqui pra frente temos que começar a economizar para o nosso casamento.

       __ Não se preocupe querida, também tenho guardado um “pé de meia” que me permite certos gastos moderados.

       Dois beijos depois, Olavo voltou para a pousada. Passou pela portaria, pegou a chave do seu quarto e ligou do celular para o “abelhudo”.

       __ Seu Henrique, preciso do senhor amanhã por tempo inte-gral. Faça o possível de chegar aqui na pousada Ipê Amarelo onde estou hospedado. Por volta das 8:00h. Pode ser?

       __ Claro! Conte comigo e obrigado.

       Sem conseguir ver sua noiva, desjejum tomado, faltando pou-co para a hora marcada, Olavo já estava sentado no táxi, ao lado do “abelhudo”.

       __ Bom dia, seu Henrique. Leve-me à melhor ourivesaria que o senhor conhece. Temos um dia muito atarefado hoje.

       Meia hora depois, as alianças já estavam compradas (com pa-gamento à vista, em dinheiro, tudo torna-se mais fácil). Olavo pen-sou em mandar gravar os nomes deles, mas não podia constar na aliança dela o verdadeiro nome Wellington.

       __ Agora leve-me ao melhor restaurante que o senhor conhe-ce.

       __ Desculpe-me. Conheço um, mas acho que é muita areia pa-ra o seu caminhão.

       __ Ótimo! Vamos lá!

       Por volta das 10:00h a mesa já estava escolhida e reservada para o jantar. Realmente o ambiente do “La Violetera” era requin-tado, com música ao vivo, paredes espelhadas, lustres de cristais pingentes, piso atapetado e com pista de dança. Ficou sabendo que o serviço era atendido por um maitre poliglota e garçons uni-formizados. Pedindo absoluto sigilo, deixou o cartão de visitas do Dr. Wellington com o proprietário e solicitou que um violinista fos-se até a mesa dele e tocasse a música Charmaine, logo após a re-feição e antes da sobremesa. Para garantir que tudo seria feito co-mo combinado, deixou um sinal de R$ 2.000,00.

       __ Seu Henrique, leve-me ao melhor salão de barbeiro da ci-dade.

       __ Ficaram noivos, né?

       __ Como foi que adivinhou? (riram)

       Às 11:50h Olavo estava de barba raspada, cabelo cortado, unhas feitas, rosto massageado. O “abelhudo” quase não o reco-nheceu.

       __ Seu Henrique, vamos nos reencontrar às 14:30h aqui na porta da pousada. Não se atrase, por favor.

       __ OK!

       Olavo teve que pedir a chave do quarto ao recepcionista que ficou meio aparvalhado com a mudança de aspecto do hóspede. Às 12:30h estava sentado à sua mesa reservada no refeitório pela Mar-cela. Quando ela o viu, quase deixou o PF cair no chão.

       __ Que belo rosto você levava escondido sob aquela barba!

       __ Você me deixa encabulado. Não estou afeito a elogios, principalmente aos sinceros. Antes de lhe conhecer, vivia cercado de bajuladores e não podia acreditar nas boas críticas recebidas sobre minha pessoa.

       __ Vamos conversar às 14:30h – OK?

       __ Claro que sim!

       Quando Marcela saiu às 14:40h, Olavo beijou-a e conduziu-a ao táxi. Pediu ao “abelhudo” que o levasse a um magazine de rou-pas masculinas.

       __ Querida, hoje o dia está atribulado. Eu vou fazer umas compras e o seu Henrique vai ficar à sua disposição. Quero você e Dona Magda bem produzidas num salão de beleza, mais lindas do que são, se é que isso seja possível. Vou deixar com você R$ 500,00 para essas despesas. Quando for umas 20:00h vou pegá-las em casa para irmos ao nosso jantar no “La Violetera”.

       __ Você ficou louco? Esse restaurante é muito sofisticado e tu-do é muito caro.

       __ Querida, eu quero comemorar nosso noivado em alto estilo. Por favor, não recuse esse meu desejo.

       Logo em seguida Olavo saltou na porta do magazine e deu um adeusinho para sua amada que estava meio desorientada com a mudança brusca do seu noivo “doidivanas”. Olavo comprou um blazer azul marinho, calça preta, camisa de colarinho, uma gravata de seda italiana e um par de sapatos de cromo alemão. Pegou um táxi e foi direto para a pousada.

       O recepcionista, pela vez primeira, entregou em sua mão a chave do quarto, sem jogá-la sobre o balcão. Ele arrumou tudo so-bre a cama e tornou a sair para ir ao Banco. Pegou mais um “refor-ço monetário” dos R$12.000,00 que já estavam bem diminuídos e voltou ao seu aposento a fim de se preparar para a grande noite. Por volta das 19:30h ligou para o seu Henrique e pediu-lhe notícias.

       __ Deixei a sua noiva e a mãe dela em casa, de volta do salão de beleza, lá pelas 18:00h.

       __ Ótimo! Você já jantou?

       __ Comi um sanduíche com guaraná e estou satisfeito.

       __ Então, pode vir para a pousada que eu estou me preparan-do.

       __ Já estou aqui na porta, seu Olavo.

       __ Puxa, fiz bem em escolher você para me ciceronear. Até já!

FIM DA SÉTIMA PARTE

Ary Franco
(O Poeta Descalço)

Continuação na Próxima Página




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