Em mim,
como na praia,
somente o silêncio do mar!
com os olhos dissolvidos
no mistério,
à procura de conforto
apenas as estrelas,
as águas,
o vento,
a noite,
velavam por um quase morto!
Sopraram forte os favoráveis,
dormiam no porto os mastros todos
entre nuvens geladas,
leve,
oculta!
A noite é cúmplice
em silêncio
e sombra,
onde resido
e morro,
pouco a pouco,
levando o barco
e a noite sobre os ombros!
Dei um grito morto,
não protesto,
dei!
Para que as mãos retornem às plumas
apesar deste vento,
desta noite,
a incerteza,
inconseqüente incerta contradição
de gestos e palavras,
frustrações,
comportamentos.
Ah! Grito morto...
Só a noite,
o medo,
o silêncio,
a brisa forte...
entenderam?
Ah! Grito morto
para o mistério,
para o mar,
sentado na pedra,
só
com o amor-maior,
em pensamento
para o mar,
para o amor!
Havia,
e era sabido,
entre os anseios,
a busca do amor que era o mistério
repousado na distância!
Mistério que se fez amor,
não lhe pedia a essência,
nem a forma,
mas o ato,
o amor
do meu jeito!
Parte-se e é tudo,
não, não!
Não diga mais nada
senão que é noite,
e a noite é cúmplice.
Quero impedir-te,
sim, quero,
mas não posso,
nunca!
Me calo e espero,
nesta doida ânsia
de quem mais quer,
mais deseja,
amor-maior,
não vês?
Será?
Sonho-te,
fúria de sonhos!
Chamo-te,
como quem naufraga!
Quero-te
transfigurada,
poeira de aurora!
Quero-te,
por amar-te no espaço!
Quero-te,
gaivota branca e ferida.
Sou teu sangue no ar
manchando tua pureza.
Quero-te
amor-maior,
quero-te livre
de outros amados teus,
livre do triste,
das garras do desaponto!
Quero-te
como menino ansiando
o colo da mãe!
Amor-maior,
QUERO-TE!
Sou um mendigo em agonia
em busca de seu derradeiro
carinho!
És a procurada,
a pura,
a meiga,
a santa,
a simples,
a predileta,
a escolhida,
a MARIA!
És o amor-maior,
mas,
calada,
humilde,
Será?
És o complemento,
o motivo,
a esperança,
a fé que nunca existiu,
o tudo que me sobrou,
os dias lentos,
de noites sem sono
de tardes e de manhãs vazias.
És inocente, amor-maior,
eu sei!
Só existe um culpado,
também sei!
Mas que importa!
Se o coração,
a saudade
e a solidão
têm-me por companheiro
muito mais que a razão!
Ridículo, meus companheiros,
ridículo!
Por que cantam meu canto
se só eu levo a sério?
Ridículo,
porque não havendo motivo
para calar-me,
contenho-me!
Ridículo,
Por que cantam meu desespero?
Por que não vão por partes?
Ridículo, meus companheiros,
ridículo!
Talvez por tudo,
mas creio que sobretudo
por serdes meus companheiros!
Mas por que persistem?
Que tanto fazem?
Sabem que me é impossível
te amar nesta noite,
amor-maior!
Quisera te amar,
como se deve olhar
uma estrela
e o luar,
com pureza e humildade!
Quisera te amar,
amor-maior,
mas estou só,
triste,
profundamente triste,
como a lua,
a noite,
o vento,
a brisa
sobre o mar!
Já nada espero!
Minha esperança
é esta entrega
sem condições,
de te querer!
Já nada espero
nada quero!
Se assim quisera tua vontade
que me perdesse
eternamente,
que eu seja teu
uma hora ao menos
do teu eterno!
Saiba,
amor-maior,
que perdido
amava o teu querer.
Amados lábios
que meus lábios nunca beijaram!
Amados dias,
poucos
e relembrados!
Amados olhos
onde a luz
o amor buscara.
Um grande espaço
em céus suspensos
nos separa,
amor-maior!
Direi à lágrima
que aos meus olhos aflora,
pobre,
sentida,
esperança tímida
de um coração indefeso,
- "Sustenta-me em meu desespero,
ajuda-me a viver!
É água e sal,
quando rebentas,
manchas-me a ferida,
mas,
curas-me a dor,
alivias-me a alma!"
Pobre lágrima incontida,
pobre lágrima triste,
mais triste que a chuva,
mais triste do que o céu quando escurece,
mais triste que o vento,
muito mais
mais triste do que o toque de silêncio.
Muito mais triste
a solidão que resiste
em deixar
meu coração.
As rosas...
mesmo as rosas
tombarão!
As rosas...
as mechas,
foram rosas...
Já não são!
As abelhas passarão
à procura de outras
rosas!
Mundo calmo,
mar tão calmo!
Calma no homem!
aparente,
tristemente levando o barco
contra corrente...
Até quando?
Frio dentro!
frio fora!
Frio em tudo!
Olhos gelados de frio!
Gelo no homem,
no mundo,
na rocha,
na noite,
na gente!
Silêncio,
só silêncio,
tudo mais,
vazio!
Teu corpo sorridente
cada vez mais longe,
mais longe
que nunca!
Teu riso distante,
mansamente triste,
se desfaz em nuvem,
em brisa,
em mar,
mar nos olhos,
mar nas horas,
mar deitado num abismo,
no mistério,
no amor,
na vida!
Amor-maior?...
Quem sabe...
Será...
Talvez...
MAIOR!!!
É MESMO?...
Sumo do tempo
Sem rumo.
A consciência.
Névoa densa.
A velhice.
Rocha a prumo.
Vista curta.
Baço horizonte.
A decadência.
Tão perto?...
AMOR-MAIOR!
Pôr-do-sol!...
Aurora...
MAIOR?
É...
Formidável!
Formatação de Carlos Roberto
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