Subitamente, o impacto.
A tela gigantesca do mundo.
E vi gente matando gente
Na guerra, nas estradas, na cidade
Nos bairros, nas casas, nos albergues, nos motéis...
Vi a doença, o ódio,
A fome, as drogas, os anticoncepcionais,
Os entorpecentes matando gente...
E fiquei pensando nas ruas cheias,
Cheias de gente, de homens que não são homens,
Mas que são massa, são correria, são aglomerado...
Fiquei pensando naqueles prédios
Vomitando gente, derramando gente
Espalhando gente por aí...
Pensei na máquina dominando o homem,
Na tecnologia escravizando o homem
E nem lembrava como era antes,
Antes, quando o homem ainda era gente,
Antes do homem devorar o homem,
Quando gente tinha coração, tinha sentimento,
Tinha lágrimas para chorar, para sentir emoção...
Antes, quando a gente vivia e deixava viver!
Esqueci... simplesmente e misturei-me;
Fui obrigado a misturar-se para não ficar marginalizado,
Para não ficar de fora e...
Certifiquei-me da crueldade,
De gente inocente sendo massacrada, imunada,
Dispensada da vida - simplesmente...
Vi fantasias, rebeliões, massacres...
Vi crianças serem varridas
Das calçadas da índia;
Vi gente morrendo nas guerras
do Vietname, da Coréia,
Do Paquistão, do Egito;
Vi gente morrendo nas filas de
ienepeesse, sem socorro;
Vi gente sofrendo ausência,
Ausência de paz, de afeto,
De calor humano, de familiares,
De filhos, de pais, de amor,
De solidariedade
Em muitos lugares onde a vegetação humana
Se desenvolve, atropela,
Mata, irrita,
Se esconde de medo das bombas,
Das armas secretas,
Dos grandes homens sem alma, desumanos.
Vi "colméias" humanas
Sendo tragadas pelos sismos,
Pelos vulcões, pelas mãos
De homens sedentos de sangue,
Sedentos de matar, de arrasar,
Ceifando vidas inocentes
de indefesas crianças...
Vi a compra de gente
A venda de gente por dinheiro,
Por mercadorias, por petróleo,
Vi a devastação de cidades
Pela fome, pelo egoísmo,
Pela ganância irracional
Onde o valor se transformou
Em vegetar, em condicionamento,
Onde a vida é conseqüência
De atitudes, de negócios,
De guerras, de egocentrismos...
Vi mais...
Vi o amor sendo comercializado,
Instrumentalizado,
Maquinizado e objeto de
Desintegração da sociedade,
Da família,
Do indivíduo...
Um drama perfeito na montagem,
Desumano ao final;
Por causa de incompreensão, da desmoralização...
Um quadro de acontecimentos
Representativos de uma era
Que neutraliza o homem,
Enganando-o, matando-o,
Comprando o vendendo gente
Como se compra e vende coisa...
Vi casas destruídas,
Famílias desmoronando,
Sonho esvaindo,
Vidas desaparecendo,
Celeiros abertos e vazios,
A fome ruminando,
Crianças mortas, matadas
Homens gritando por ajuda,
Gente sedenta de sangue,
Bombas, armas, homens, crianças,
Religião política, economia,
Vida sonho morte
Na miscelânea do mundo, da vida...
Vi o fantástico, o sugestivo,
A vida e morte juntas,
De mãos dadas
Nesta viagem do sonho real...
Depois
Eu me sentei como réu ante o mundo, ante os homens,
E fui julgado por juízes peritos, grandes,
Por homens de países, de Estados
De sociedades, de famílias e
Até por vocês...
E no final de tudo fui absolvido
Por unanimidade de votos porque
Hoje, para poder viver, para poder
Ter um lugar ao sol,
Tenho que esquecer de ser gente
E misturar-me com os outros,
Para me tornar máquina,
Para matar,
Para enganar,
Para mentir,
Para não mais sorrir,
Para não mais amar,
Para não mais existir como gente
E me tornar assim
Ator nessa tela...
Formatação de Carlos Roberto Lemberg |
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