__ Querida, já são 4:00h e seria melhor nos encontrarmos depois do almoço. Pego
você por volta das 13:30h para irmos ao COI e traçarmos nossos planos em
conjunto. São tantos sonhos que tenho guardados neste meu ufanoso e apaixonado
peito que mal consigo guardá-los para mim e necessito dividi-los com você. E não
se esqueça: você não trabalha mais para ninguém nesse mundo. Amanhã avisarei na
pousada que você não mais pertence ao quadro de empregados deles. Você teria à
mão sua carteira profissional assinada por eles. Preciso que deem baixa logo
após eu pagar o seu aviso prévio.
__ Não tenho carteira assinada. Sempre trabalhei para eles sem contrato ou
garantia alguma.
__ Ótimo! Isso torna as coisas mais fáceis.
Chegando ao destino, sem qualquer colóquio, Wellington acompanhou-as até o
portão e despediu-se de Da. Magda com um beijo na sua mão e um apaixonado e mais
demorado em Marcela.
__ Seu Henrique deixe-me na pousada e vá para casa descan-sar. Vou precisar dos
seus serviços na parte da tarde. Peço que me pegue às 13:15h e continue à minha
disposição. Acertaremos nos-sas contas mais adiante. Por ora, fique com R$
500,00 como paga-mento inicial por seus prestimosos serviços.
__ Obrigado, patrão. Deus lhe pague!
A pousada estava fechada, mas pela vidraça Wellington viu o “vigia” dormindo
numa cadeira. Acordou-o com umas sonoras bati-das na porta.
__ Bom dia, meu nome é Olavo e sou hóspede do quarto 303.
__ Bom dia! É a única chave que está no quadro. Só faltava vo-cê chegar para
poder dormir direito (e
riu).
Em que espelunca danada fui me meter, pensou Wellington. O calor era intenso, o
ventilador do teto continuava enguiçado. Des-piu-se e dormiu de cuecas, só
despertando às 10:30h. Apressou-se em tomar uma chuveirada, vestiu a
“indumentária” de classe mé-dia e desceu. Passara da hora estipulada e perdeu o
desjejum.
Ao entregar a chave do quarto ao recepcionista “delicado” pediu-o para dar
ciência ao seu patrão de que a Srta. Marcela não trabalharia mais na pousada,
mas que ele ficava livre para entrar com uma ação trabalhista contra ela
alegando abandono de empre-go. Ele engoliu em seco, rangeu os dentes, ficou meio
pálido e não disse uma única palavra, limitando-se a colocar a chave do 303 no
escaninho correspondente.
Wellington estava ciente de que nada poderia ser feito contra a sua noiva,
graças a não terem assinado a carteira profissional dela. Por dentro sentiu-se
satisfeito em ter dado uma lição naquele petulante grosseiro e mal-educado.
Uma vez sentado no banco da praça, ligou do celular para seu mordomo Charles
dando-lhe instruções para recolher todos os re-tratos de sua falecida esposa,
inclusive o quadro a óleo sobre tela da sala principal e guardasse tudo com
cuidado em local que não ficasse à vista. Avisou que estava se preparando para
encerrar suas férias e que pretendia retornar de helicóptero. Que o piloto
Ante-nor e copiloto ficassem de sobreaviso e que fossem estudando um plano de
voo para a cidade de Piracelândia, onde estava passando suas férias. Talvez uma
das fazendas próximas tivesse um helipor-to.
Pouco mais do meio-dia sentou-se à uma das mesas do refeitó-rio (a
“dele”
já
estava ocupada) e escolheu o PF (prato feito), uma vez que a mocinha que
substituía Marcela não sabia de sua prefe-rência. Com o apetite saciado subiu
para o quarto, escovou os den-tes, passou umas gotinhas de “Bleu de Chanel” no
pescoço e às 13:15h já estava sentado no taxi ao lado do “abelhudo”.
__ Boa tarde, seu Henrique.
__ Boa tarde, patrão.
__ Você tem família?
__ Uma esposa e duas filhas. Lá em casa temos um liquidifica-dor, geladeira e
máquina de lavar roupas, tudo da sua marca Vile-lar...
__ E o fogão?
__ Qualquer natal desses a gente troca. O nosso já está velho e nem lembro da
marca.
__ Antes do dia de despedir-me, você vai ganhar um de seis bocas – OK?
__ Puxa vida, patrão! Parece que o senhor caiu do céu.
__ Noutro dia me disseram a mesma coisa e você não sabe o quanto me deixa feliz
ouvir isso. Vamos dar uma passada na flori-cultura e numa bomboniere, quero
comprar uns mimos.
Wellington comprou um ramalhete de rosas vermelhas para Marcela e uma caixa de
bombons para Da. Magda. Às 13:30h já es-tava na casa de sua noiva.