Meio embaraçado, Olavo levantou-se e apertou a mão do seu amigo Washington,
também um industrial renomado no ramo side-rúrgico.
__ A surpresa é toda minha em vê-lo por estas bandas distan-tes. Deixe-me
apresentar minha noiva, Srta. Marcela e minha futu-ra sogra Sra. Magda.
__ Encantado!
__ Você está sozinho? Quer fazer-nos companhia?
__ Não, obrigado. Estou com minha esposa e filha em outra mesa e vim apenas
cumprimentá-lo. Que a noite lhes seja agradá-vel. Com licença.
Washington passou como um tornado deixando destroços re-presentados nas
indagações, curiosidade e satisfações a serem dadas por Olavo. Ele já estava
disposto a prestar os devidos e indis-pensáveis esclarecimentos sobre a sua
verdadeira identidade, mas a abordagem do amigo forçou-o a apressá-las.
__ Queria contar para minha querida Marcela e adorável sogra tudo a meu respeito
logo após a sobremesa, mas essa aparição do meu amigo obriga-me a antecipar o
programado. Só peço paciência para ouvirem-me até o fim com vossos corações
abertos para en-tender-me. Meu nome verdadeiro é Wellington Dantas Vilela, nasci
em berço de ouro e herdei, como filho único, a “Empresa Vilelar”, fabricante de
produtos eletrodomésticos. Com o falecimento de meus pais e de minha esposa
Yolanda, fiquei sozinho no mundo cercado de imensa fortuna material, mas imerso
numa insuportável solidão. Só tinha à minha volta bajuladores e falsos amigos,
mulhe-res que viam em mim um belo partido para usufruir as benesses de minha
elevada posição na Sociedade. Sonhava em constituir uma verdadeira Família e
preencher meus dias vazios com o aconchego amoroso de uma esposa a me esperar na
volta do trabalho e que me desse, pelo menos, um filho para dedicar-lhe todo o
amor que tenho guardado em meu coração. Para isso, tomei a decisão de sair mundo
afora à procura da mulher ideal, que me despertasse paixão e sentir por parte
dela o mesmo amor sincero e desinteressado. En-contrei em você, Marcela, essa
minha metade com que tanto so-nhava.
__ Olavo, você acha que devo amar o “Dr.
Wellington” da mesma
forma que te amo? Acredita que irei sentir-me feliz no seu mundo aristocrático?
Que abandonarei as crianças que ajudo para viver faustamente, sem importar-me
com o próximo?
__ Querida, pense que você vai poder ajudar um universo de carentes. Se quiser,
fundará creches, asilos, orfanatos e estarei sempre ao seu lado nessa
empreitada. Aprendi muito com você a doar e nem só amealhar. Que a verdadeira
felicidade está em ajudar os menos privilegiados que estejam ao nosso alcance, à
nos-sa volta...
Fez-se um pesado silêncio somente quebrado pela orquestra que tocava My Way.
Marcela olhou para Da. Magda como que a per-guntar o que dizer.
__ Filha, viu como não sou fácil de ser enganada? Sempre achei que o Sr. Olavo
não era quem procurava aparentar. Seus mo-dos polidos, fina educação, vasta
cultura, cavalheirismo... não se encaixavam na figura do vendedor comissionado
de aparelhos ele-trodomésticos.
__ E nisso tudo, Olavo, como ficará minha mãe? Já lhe disse o quanto ela
representa para mim e...
__ Marcela, Da. Magda faz parte integrante de todos os meus sonhos. Estou
cônscio de que a sua felicidade depende da felicida-de de sua mamãe. Ela irá
morar conosco. Meus planos é de nos ca-sarmos oficialmente no civil e depois no
religioso numa capela mo-desta, sem pompas, com seus dois irmãos e familiares
convidados para a cerimônia matrimonial. Acredite em meu amor por você e que
teremos um futuro abençoado por nosso amado Deus Criador! Se algum dia vieres a
chorar será de alegria, prometo!
__ Wellington, temos muito mais a conversar. Proponho que dispensemos a
sobremesa, dancemos mais uma vez e amanhã, de-pois do trabalho, falaremos
detalhadamente sobre este delicado e importantíssimo assunto.
__ Marcela, pelo amor de Deus, acorde para a realidade, a partir deste instante
você não volta a trabalhar. Amanhã teremos que ir ao COI levar aqueles R$ 500,00
em presentes para nossas cri-anças. Ou esqueceu-se do compromisso assumido? (ela
sorriu).
Dançaram com rostos colados e Wellington se sentiu entre nu-vens.
A partir daquele instante todo o mais passou a ser detalhes a serem alinhavados
por ambos. Sua busca cessara, seu sonho estava a um passo de ser alcançado com a
realização do iminente casa-mento.
Passava das três horas quando Wellington despediu-se de seu amigo Washington, na
mesa que ocupava.
__ Ainda é cedo. A noite é uma criança.
__ Tenho que ir. Amanhã terei um dia atarefado. Boa sorte!
Depois do jantar pago, e uma polpuda gratificação para o vio-linista, o “abelhudo”
foi despertado pelo celular tocando.
__ Seu Henrique, estamos esperando-o na porta do restauran-te.
__ Estou indo patrão, respondeu com voz sonolenta. Já estou a postos para
servi-lo (ele dormia a
sono solto, dentro do táxi).
Uma vez alojados no táxi, os beijos trocados tornaram eviden-te que um pacto de
amor eterno estava selado entre Marcela e Wellington.
FIM DA NONA PARTE