Meus “eus”, quando diversos,
de sonharem-se são dispersos,
dizem “sim” e “não” os loucos,
fúteis eruditos, como poucos.
Já que por vezes são irascíveis,
não há no mundo impossíveis,
e parto espelhos, e cinzeiros,
gatos pretos, miles reposteiros.
E este meu ser, sempre febril,
dá-se mal, com os ares de Abril,
em que o pólen serena no ar,
diria: só e só para me contrariar.
Sou um em muitos a me pensar,
duplo ser, que preferiria sonhar,
aí, debaixo dessa árvore carnuda,
e que, minha boca, fosse já muda.
Mas, que faço eu, com a poesia?
Ao poeta, sua Sorte não lhe fugia,
mesmo que quisesse outra coisa
ser, no seu dia: ele já é essa coisa.
Então retomo com os meus Entes,
todos eles em si muito diferentes,
personalidades fortes, ou frágeis,
cabe a mim moldá-los: as imagens.
Sempre um verso, que escrever,
na esperança que outros o vão ler,
e quer gostem ou não gostem nada,
deixem sinal da sua breve passada.
Não! Não me dêem vinho, a beber!
Quero estar lúcido, ao escrever!
Que do passado, que foi tão só meu,
a muitos, pai e mãe, entristeceu.
Este é o Fado de um poeta, versar
sem parar, a nos seus leitores pensar,
como se fosse para si o que rima
na folha, quando este, enfim, se atina.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 19/01/2011
*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com
a antiga ortografia.