Eu e meus outros eus
 
Recebi em 27/02/2023


Meus “eus”, quando diversos,
de sonharem-se são dispersos,
dizem “sim” e “não” os loucos,
fúteis eruditos, como poucos.

Já que por vezes são irascíveis,
não há no mundo impossíveis,
e parto espelhos, e cinzeiros,
gatos pretos, miles reposteiros.

E este meu ser, sempre febril,
dá-se mal, com os ares de Abril,
em que o pólen serena no ar,
diria: só e só para me contrariar.

Sou um em muitos a me pensar,
duplo ser, que preferiria sonhar,
aí, debaixo dessa árvore carnuda,
e que, minha boca, fosse já muda.

Mas, que faço eu, com a poesia?
Ao poeta, sua Sorte não lhe fugia,
mesmo que quisesse outra coisa
ser, no seu dia: ele já é essa coisa.

Então retomo com os meus Entes,
todos eles em si muito diferentes,
personalidades fortes, ou frágeis,
cabe a mim moldá-los: as imagens.

Sempre um verso, que escrever,
na esperança que outros o vão ler,
e quer gostem ou não gostem nada,
deixem sinal da sua breve passada.

Não! Não me dêem vinho, a beber!
Quero estar lúcido, ao escrever!
Que do passado, que foi tão só meu,
a muitos, pai e mãe, entristeceu.

Este é o Fado de um poeta, versar
sem parar, a nos seus leitores pensar,
como se fosse para si o que rima
na folha, quando este, enfim, se atina.

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 19/01/2011



*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia.

 
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