À banalização da Poesia
 
Recebi em 05/01/2024


Hoje a besta desceu sobre mim

Arrepiando caminho pelo senso

Comum, e nas escadas sem fim

Só ficou o olor do contra-senso.


Fez-me fazer coisas impensáveis

Ao comum dos homens, foi então

Que perdi, das cenas inenarráveis

O controlo do meu servil coração.


Foi então que o maldito demónio,

Se apoderou de minha vida sem

Pedir licença, ficou-me, do gônio,

A mestria de quem vive sem além.


Roubei o melhor que havia em mim

Não medi prejuízos ou armadilhas,

Por tudo isso, posso dizer-te assim,

Mereci todas as ilustradas quilhas,


Além-mar singrando nas altas ondas.

Agora sou refém de mim ou de outro.

Dime, para onde pendem as sondas?

Alguém viu ilustre e desejado porto…


Os braços se distenderam além poço

As pernas se encolheram ao mínimo,

E eu, que jamais serei de novo moço,

Contento-me com o meu real íntimo…


Que posso eu fazer do ilustre passado,

Viver o dia a dia é o que me resta aqui,

Não quero que o futuro me seja negado

Porque antes de tudo não soube de mim.

Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal - 30/07/2007



*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com a antiga ortografia.

 
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