Hoje a besta desceu sobre mim
Arrepiando caminho pelo senso
Comum, e nas escadas sem fim
Só ficou o olor do contra-senso.
Fez-me fazer coisas impensáveis
Ao comum dos homens, foi então
Que perdi, das cenas inenarráveis
O controlo do meu servil coração.
Foi então que o maldito demónio,
Se apoderou de minha vida sem
Pedir licença, ficou-me, do gônio,
A mestria de quem vive sem além.
Roubei o melhor que havia em mim
Não medi prejuízos ou armadilhas,
Por tudo isso, posso dizer-te assim,
Mereci todas as ilustradas quilhas,
Além-mar singrando nas altas ondas.
Agora sou refém de mim ou de outro.
Dime, para onde pendem as sondas?
Alguém viu ilustre e desejado porto…
Os braços se distenderam além poço
As pernas se encolheram ao mínimo,
E eu, que jamais serei de novo moço,
Contento-me com o meu real íntimo…
Que posso eu fazer do ilustre passado,
Viver o dia a dia é o que me resta aqui,
Não quero que o futuro me seja negado
Porque antes de tudo não soube de mim.
Jorge Humberto
Santa-Iria-da-Azóia - Portugal
- 30/07/2007
*Por decisão do autor, o texto está escrito de acordo com
a antiga ortografia.