Cavaleiro da
Triste Figura que, por
loucura divina, transformou o bufo
em lírico, na busca da ilusória glória.
Dignidade de
andante cavaleiro
que lavava a honra enobrecida nos
desafios ofertados à dama amada
e cultuada no devaneio da loucura.
Armadura, lança,
elmo. Que valia
teriam não fossem as cores da ilusão
desfraldadas na velocidade do tropel
sofrido do inseparável Rocinante?
Fiel Sancho
Pança, escudeiro, às vezes
sábio, outras pífio, levado pela ambição
a seguir o sonho alucinante e inatingível
do burlesco amo itinerante.
Bruxos e
Feiticeiros transformavam moinhos,
rebanhos ou procissões em motivos nobres
para heroicas de batalhas.
Castelos de
papel traçados em férteis
terrenos projetados nas linhas sinuosas
da demência e na visão doce de Dulcinéia,
ruíram...
Nobre alma
envolta em corpo magro e exaurido
pelas agruras reais do castigo sofrido nos
confrontos humanos com seres insensíveis.
Hino à moral do
fracasso que pelo seu texto
inesgotável, induziu a moderna sociedade a
desnudar, divertida, a outra face da loucura.
Morte inglória e
triste alcançada no retorno
definitivo à lucidez que permitiu, enfim, resgatar
e difundir no decorrer dos séculos o real brilho
da obra superior ao tempo.
Olhar alucinado
e subjugado pelo espírito
idealista, finalmente se apaga atrás da viseira
que se cerrou para sempre. Quem mais lutará
pelos pobres e oprimidos com tal nobreza?
Nobre artista
que, entalhando em madeira,
esculpindo em mármore ou definindo na suave
carícia dos pincéis, mantém presente a triste e caricata
figura que, por loucura divina,transformou o bufo
em lírico, na busca da ilusória glória...
Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 08/11/2005
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