Ampulheta


Segue a vida, na rotina diária do tempo que,
inexorável, se encaminha para o seu final.
Velha ampulheta que tentamos inutilmente
frear ou reverter o seu cadenciado passar...

Areia fina, e às vezes colorida, pelos séculos
confirma a irretroatividade da vida, turvando
a visão perdida nas estradas tortuosas e
imprevisíveis da existência.

Sorriso espontâneo, olhos brilhantes, esperança
concreta... Pequenos nos aventuramos, com
passos inseguros, no ato primeiro da experiência
humana. Ilusões revestidas de otimismo, doces e
ilógicas, nos impulsionam para o futuro que
acreditamos infinito.

Sonhos passageiros permitem o real e o virtual
se confundirem nas expressões mais puras e
significativas da existência. Esperanças se
desfazem, sufocadas pela estreita passagem
por onde se dissipa o tempo da vida.

Imparcial e colorida, orgulhosa desce a areia, já
marcada pela vaidade absoluta dos que se sabem
invencíveis...

Sopro final com que tentamos reter os últimos grãos
de vida que, indiferentes, mergulham na eternidade.

Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 22/11/2004




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