Coqueiro


            Velho Coqueiro solitário e cansado, aprisionado en- tre pedras portuguesas, observando, cercado pelo moderno, restos da saudosa terra onde vivias...

            Hoje, saudoso por certo, dos pares frondosos que, jovens e belos, deixavam cair frutos maduros generosa- mente  repartidos entre criança e pássaros em festa.

            Teu tronco vergado, mas nunca vencido, resiste ao vento constante e inclemente que, por anos, busca te abater.

            Em ti vivem folhas entreabertas onde se prendem, ainda, sonhos coloridos pela felicidade do passado.

 
           És o adorno natural de moderno edifício que trans- formou em ruínas a casa onde deixei as doces ilusões de criança...

            Solidário te visito em meus passeios matinais bus- cando em tuas raízes as minhas próprias raízes que o tempo não conseguiu apagar.

            Observas agora, tristemente calado, as mazelas em que foram transformados os nobres e puros valores da época da nossa infância...

            Ao passar, sinto que me observas com olhar sofrido, mas sempre atenuado pela cumplicidade mantida pelos tempos.

 
           Sinto um desejo quase incontido de atravessar a rua, afagar tuas feridas, abraçar-te e segredar-lhe com carinho:

            - Tu ainda me pertences!

            Mas, com certeza, por louco me tomariam...

            Então, pensativo, sigo o meu caminho ouvindo o triste vento do outono a cantar...

Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 28/05/2004



 

 

Anterior Próxima Poetas Menu Principal