Velho
Coqueiro solitário e cansado, aprisionado en- tre
pedras
portuguesas, observando, cercado pelo moderno, restos da
saudosa
terra onde vivias...
Hoje, saudoso por certo, dos pares frondosos que, jovens e belos,
deixavam cair frutos maduros generosa- mente repartidos entre
criança e pássaros em festa.
Teu
tronco vergado, mas nunca vencido, resiste ao vento constante e
inclemente que, por anos, busca te abater.
Em ti
vivem folhas entreabertas onde se prendem, ainda, sonhos coloridos pela felicidade do passado.
És o adorno natural de moderno edifício que trans- formou em
ruínas a
casa onde deixei as doces ilusões de criança...
Solidário te visito em meus passeios matinais bus- cando em
tuas
raízes
as minhas próprias raízes que o tempo não conseguiu apagar.
Observas agora, tristemente calado, as mazelas em que
foram
transformados os nobres e puros valores da época da nossa infância...
Ao passar, sinto que me observas com olhar sofrido, mas sempre atenuado
pela cumplicidade mantida pelos tempos.
Sinto um desejo quase incontido de atravessar a rua, afagar tuas feridas, abraçar-te e segredar-lhe com carinho:
- Tu
ainda me pertences!
Mas,
com certeza, por louco me tomariam...
Então, pensativo, sigo o meu caminho ouvindo o
triste vento
do outono a cantar...