Recuo no
tempo...
A fantasia de
pirata se ajusta
com perfeição ao meu corpo.
Feliz, abraçado a uma linda
cigana, que pelo salão espalha
sua alegria...
Corpos, seminus,
se enlaçam.
O suor desce pelo calor dos
nossos corpos. Sem pressa.
No olhar
apaixonado,
nossos lábios se encontram
pela primeira vez, sem
quase se falarem, se
conhecerem...
O doce inalar do
lança-perfume
acomoda-se em nossas almas.
O salão se reveste de novas cores.
Sonhos, delírios...
A música pára,
mas tudo continua.
Inalterado. Todos ainda dançam.
Vejo, no limite
dos sentidos,
expressões comprimidas pelo prazer.
Bocas articulando sons vazios que,
perdidos, deixam-se ficar caídos.
Sinto nos meus
lábios o sabor
de outros lábios. O ébrio roçar
do copo fantasiado de prazer.
De repente, tudo
acaba...
Uma voz desconexa grita:
- Quarta-feira de Cinzas!
Desperto. Retiro
a fantasia...
Procuro, na solidão, o sentido
de tudo isto...
Onde andará
minha cigana?
E os lábios que beijei...
Triste, entendo
que esqueceram
em mim pedaços dos seus sonhos...
Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ - 09/02/2006
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