Amigo


Hoje pode me faltar tudo...
Dinheiro, prazer, emoções, meu
novo amor não me querer.

O velho pároco não me benzer.
O Leão, na malha fina me prender.
O meu Fogão voltar a perder.

Pode até o Sol se esconder ou a Lua não
aparecer...

Só não pode, Amigo, faltar você...
O seu olhar tolerante, o abraço fraterno,
o silêncio oportuno...

Este completo e mágico momento que me
acolhe, envolve, ilumina...

Como nas doces madrugadas festivas, em
que mulheres e noites nos abraçavam com
lábios sequiosos, e nós, nobres herdeiros de
noctívago viver, deixávamos-nos iludir...

... pelas frágeis artimanhas do prazer.

E as beatas, entrecortando orações, repetiam
coléricas por trás das janelas: - Profanos!
Indiferentes, apenas sorríamos...

Hoje pode me faltar tudo...

Menos aquele seu sorriso boêmio. O ritual do
brinde ao primeiro gole, o sempre renovado pedir
da saideira, o olhar esquecido na graciosa fumaça
desenhada delicadamente na última tragada...

Nossa mesa está amargamente vazia. De longe
sinto ainda chegar a voz ritmada do vira-vira e
do bater festivo e cadenciado dos copos.

Minha alma sangra diante da sua ausência e,
na plenitude das lágrimas, busco com ternura,
o singular brilho do seu olhar entre as distantes
e entristecidas estrelas...


Domingos Alicata
Rio de Janeiro - RJ -
17/07/2007



 

 

Anterior Próxima Poetas Menu Principal