Sinto-me afogado na mesmice. É sinal que me chega a velhice. Ela insiste em querer me abraçar E eu cansando dela me esquivar! Faço de tudo para algo inovar, Mas não acho qualquer novidade. Nada mais consegue me interessar. Só pode ser mesmo coisa da idade. Debocho do que me mostra o espelho. Inda vejo a imagem daquele fedelho Que fazia caretas para ele no banho. Seus cabelos eram fartos e castanhos. Agora estão todos ralos e brancos. No rosto cansado, triste e enrugado Sobra-me ainda aquele olhar brando, Crendo que me esforcei em ter acertado. Cada ruga tem sua estória para contar São troféus tão difíceis de conquistar. Delas me orgulho. É questão de gosto! Mas há quem queira tirá-las do seu rosto. Cousa alguma poderei levar comigo. Fui dono de nada, tudo era emprestado. Deixarei meus poemas e alguns amigos. Quiçá por algum tempo, seja lembrado! Fiz da minha vida razão para ser vivida. Estou preparado para minha partida. Ignoro o quanto me falta de estrada, Se amanhã, minh’alma está preparada! Apenas uma dúvida inda me preocupa: Deixarei algo errado por “mea culpa”? No mais, tenho a consciência tranquila. Só levarei fé e amor em minha mochila!
Ary Franco |