Devaneios de um insone




Noite alta. Estou sentado no banco do meu jardim.
O luar, peneirado pela folhagem do caramanchão,
Espalha incontáveis e formosas figuras pelo chão.
Minha fiel cadela, chega e se deita perto de mim.

O silêncio reinante é propício e leva-me a meditar.
Como minha vida tem sido ditosa e gratificante!
Sim, feliz graças a Deus, sem ter do que me queixar.
Só dádivas recebi, da minha infância até este instante.

Nasci, cresci, amadureci, constituí minha família...
Apenas poucos episódios recordo com melancolia.
A partida de alguns amigos e de meus ancestrais.
Afora isso, realizei inúmeros sonhos magistrais!

Não teimei em querer recuperar o amor perdido.
Aprendi e conformei-me em amar sem ser amado.
Coloquei as adversidades num passado esquecido.
Jamais quedei-me a chorar sobre o leite derramado!

Uma nuvem passageira vem ofuscar o prateado luar.
As figuras no chão se apagam por um breve instante.
Um vaga-lume rabisca a escuridão com sua luz a brilhar.
A lua volta. Sinto vontade de tocá-la, embora distante.

De chofre, Morfeu começa a de mim se apossar.
Minha cabeça se inclina mas continuo acordado.
Um latido da Bella, parece que está a me chamar.
Entramos em casa. Melhor será eu sonhar deitado!


Ary Franco
(O Poeta Descalço)




Fundo Musical: Em Algum Lugar No Passado (Tema de Filme)
 
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