Despede-se sem adeus o tórrido verão. Já sinto no rosto as brisas de outono. São arautos dos bons dias que virão. Na rede, deito-me embriagado de sono. Folhas secas despencam de florida árvore. Suave aragem as trás para minha varanda. Formam um tapete no frio chão de mármore. Com elas chega-me um doce olor de lavanda. O luar salpica de prata o tapete folheado. Deslumbrado, recuso-me a nele pisar. Permaneço na rede, feliz e encantado. Presente da natureza que me veio ofertar. Apego-me ao momento, mas o tempo é implacável. Arrastado por ele sou, sem a mínima dó ou piedade. Temo o frio inverno que virá de forma inapelável. Sei que este outono, quando se for, deixará saudade.
Ary Franco |