Modos de ver

Recebi em 02/11/2024


Sim, confesso, sou um romântico,
mas um romântico que não entende
aquela poesia barata
tão pobre, tão reles, tão banal,
tão recheada de nada, tão abstrata,
que apenas passa ou se vende
com rótulo de intelectual,
por entre o clamor de louvores
forjados nos bastidores.

É que a verdadeira poesia
alia o real à fantasia,
mas deixa vogar a mente
ao sabor dum sonho, dum impulso,
não alinha, simplesmente
meras palavras avulso
para que o leitor, desprevenido,
numa obrigação invulgar,
lhes tente dar um sentido
que não consegue alcançar.

À falta de talento, medra a demagogia,
e grassa a mediocridade
que, para além de deselegante,
é demasiado frustrante
para quem gosta da poesia
e a pretende com verdade.

Nesta, tenta descrever-se o belo,
aprende-se a apreciar
o mais suave tom da melodia,
no céu, o esvoaçar mais singelo,
a folha que se agita na corrente de ar,
o raiar do sol ao nascer do dia
e, à noite, o doce encanto do luar
com o seu cortejo de estrelas.

Ah! Tantas, tantas coisas belas,
tanta ilusão, tanto desejo,
tanta palavra a definir um beijo
que se manda, em pensamento,
num sonho fugaz, passageiro,
indo, nas asas do vento,
percorrendo o mundo inteiro.

Já se ouve, ao longe, um cântico
de agradecimento e louvor,
que se escuta com muito amor…

Sou, sem dúvida, um romântico!



António Barroso (Tiago)


 


 

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