Cântico da Vitória
 


Aqui vou relatar um pouquinho de como foi minha vida.

Minha mãe se enviuvou aos vinte e seis anos de idade e neste esta-do de viuvez permanece até o dia de hoje, contando já com se-tenta e cinco anos de idade.

Talvez tenha seguido o exemplo da profetisa Ana aquela filha de Fanuel que pegou o menino Jesus em seus braços. (S. Lucas 2:36), somos quatro irmãos, sendo eu o mais velho que naquela época estava para completar cinco anos  de idade, minha mãe sem-pre temeu a Deus e manteve uma conduta ilibada e um porte de mulher cristã, irrepreensível perante a família e a sociedade, tra-balhou em serviços humildes para nos sustentar, às vezes começava sua tarefa laboral de madrugada indo até o anoitecer, mesmo en-ferma nunca se esmoreceu, jamais o cansaço a impediu de estar na igreja buscando refrigério para sua alma.

Aos sete anos eu já vendia doces, revistas e até galinhas a fim de ajudar minha mãe sustentar meus irmãos mais novos.

Ainda na minha tenra idade fui trabalhar em uma oficina de pintura de veículos, nesta oficina fui muito humilhado, trabalhava a sema-na toda e no sábado o patrão chegava embriagado e dizia que pa-gamento só na próxima  semana, eu somente abaixava a cabeça e ia embora com os bolsos vazios, mas na segunda feira lá estava eu de novo.

Certo dia de manhã quando eu ia para o trabalho, percebi às mar-gens da rua algumas cédulas de dinheiro, muito me alegrei, mas o mistério é que nos dois dias seguintes, no mesmo lugar encontrei novamente dinheiro, não era muito, mas foi bastante útil, real-mente existem milagres.

Será efeito da oração que eu fazia antes de sair  de casa?

Nesta oficina roubavam meus pertences e muitas vezes fui maltra-tado e humilhado por aqueles mecânicos indoutos.

Às vezes trabalhava sozinho nos finais de semana e feriados e não posso omitir um acontecimento ou melhor dizendo um grande livra-mento em minha vida ocorrido naquela oficina.

Certo dia só estava eu trabalhando, estava em cima do capô de uma camioneta, lixando o teto da mesma, e esta estava sem o pa-ra-brisa, quando ali apareceu o filho do patrão o pequeno mole-que fitou em mim seus lindos olhos verdes e disse: um passa-rinho passou por mim e falou, hoje a oficina do seu pai vai cair, acreditando nas palavras do menino imediatamente fui ao ba-nheiro e fiz uma oração ao meu Deus pedindo sua proteção, e como era um galpão grande e antigo, continuei trabalhando, pois só es-tava eu naquele momento, mais tarde ouvi grande estalo e mis-teriosamente passei para a cabine através do para-brisa, rapi-damente a oficina se desmoronou e todo aquele madeiramento e telhas caíram sobre mim, muitos aparelhos e ferramentas de tra-balho se danificaram, mas Deus não permitiu que algum daqueles aparelhos se explodissem, porém vi um mundo de trevas e foi di-fícil achar um meio para sair de debaixo dos escombros, logo ou-vi alguém dizer tem um menino em baixo de tudo isto, mas minha patroa disse: meu filho teve um sinal através de um pássaro de que esta oficina iria cair quando ele contou isto para o Valeriano, meu filho o viu entrar no banheiro e fazer uma oração, tenho cer-teza que ele está vivo, imediatamente ao ouvir estas palavras eu já estava saindo ileso daquele horrível lugar.

Tenho também que registrar um fato que me marcou no tempo des-ta oficina, apesar de minha timidez o que é comum em gente po-bre, certo dia eu estava trabalhando e quando conversava com al-guém eu disse que sonhava um dia ser um advogado e um cidadão filho de gente rica da cidade (assim chamávamos os melhorzinhos de situação) ele me retrucou e disse que filho de pobre não for-mava, fiquei muito triste e bastante humilhado (até porque em minha cidade não tinha nenhuma faculdade) como fui criado em berço evangélico, onde aprendi a amar eu o perdoei, um dia deixei a oficina para ser professor primário na zona rural, era escola unitária na mesma sala tinha alunos do pré-primário até 4a. série, depois passei a lecionar para o ensino médio, depois logrei êxito no vestibular de Economia em Anápolis, viajava de minha cidade para Anápolis por mais de duas horas em estrada de terra e após a aula não tinha como voltar para minha cidade, então viajava de Anápolis para Goiânia, dormia numa cama chamada campanha (de arame) de favores e levantava às 4:30 da madrugada para tomar o ônibus para minha cidade e começar a lecionar de ma-nhã numa escola pública e a Secretaria de Estado da Educação atrasou meus salários por onze meses, vivia de ajuda que a dele-gada de ensino me dava para eu tentar sobreviver, outro fa-to marcante foi que quando a delegada de ensino me avisou que minha nomeação havia saído e que eu fosse até a Caixa Econômica do Estado para receber meus salários, saindo dali parece que eu estava voando de alegria, mas esta alegria tornou-se em frus-tração, quando apareceu um conhecido dizendo: “Eu trabalho em uma empresa de investimentos onde você aplica seu dinheiro e em poucos meses recebe ele triplicado”.

Eu inexperiente apliquei tudo e continuei a mesma vida de pro-fessor pobre, somente três anos após a aplicação recebi de volta o valor aplicado e depreciado sendo que me pagaram um terço do valor aplicado, sofri mais este golpe.

Lembro de um dia que após a aula na Faculdade em Anápolis por motivos alheios a minha vontade me faltou o dinheiro para voltar para Goiânia, eu só tinha dois caminhos, pousar nos ban-cos da praça ou rodoviária ou pedir um pouso para alguém e no dia seguinte pedir o motorista do ônibus para me levar de graça dire-tamente para Inhumas, então cheguei à pensão mais feia e horrível de Anápolis e quando contei a história para o dono, um cidadão de bom coração ouviu e disse: “Arrume o quarto para o moço que eu pago”.

Só que naquele quarto já dormia uma pessoa estranha, talvez foi a noite mais longa de minha vida.

Mas o Curso de Economia era de quatro anos porém só frequentei por três anos e não tive como concluir, entrei para o curso de licenciatura em história, muito aprendi, mas não concluí, mas meu sonho foi realizado entrei para a Faculdade Direito, embora nesta época já trabalhava como bancário em Goiânia e viajava todos os dias para Anápolis para Cursar Direito, no quarto ano co-mecei a trabalhar como estagiário e como o serviço do banco era só de manhã um de meus sonhos foi concretizado, por vários anos advoguei na área de família sem prejudicar minha função no banco.

Não querendo enfadar o leitor deixo de relatar muito  do que sofri e também do bem que desfrutei.

Graças a Deus fui aprovado em Concurso Público como escriturário do BANESPA - Banco do Estado de São Paulo S/A, trabalhei em Goiânia-Go, Caxias do Sul - RS e me aposentei na agência de Aná-polis-Go., pouco antes de o governo vender o banco por preço baixo para um banco estrangeiro.

Eu como aposentado do Banespa não tinha muita alegria porque via meus ex-colegas que foram demitidos aleatoriamente ou saíram incentivados pelo tal de PDV, surgido pelo sistema neoliberal que fez o governo vender quase todos os bancos estaduais, jogando milhares de bancários e pais de famílias na rua.

Mas quero lhes contar sobre o moço que me humilhou e disse que pobre não cursava universidade, certo dia aqui em Anápolis em-barquei num ônibus que fazia a linha Brasília Cuiabá e de lá eu seguiria para a Bolívia, o ônibus parou em Goiânia em um Restau-rante, e lá vi um ex dono de oficina que me conheceu quando criança naquela peleja da oficina e junto com ele estava aquele que me humilhou e disse que pobre não tinha como estudar.

Então aquele outro cidadão perguntou-me, há muitos anos você sumiu e com toda humildade lhe falei sobre minha vida, meus filhos meu emprego no Banco, meus estudos, e aquele que havia me humilhado me ignorou apenas ouviu o meu relato, mas eu nada disse a ele, acho que só o meu relato mexeu com seus sentimentos até porque aquele moço não havia cursado nenhuma faculdade.

Preferiria não tê-lo encontrado porque nunca me vinguei de nin-guém.

Deixando de falar de coisas tristes que embora possa servir de ânimo para o leitor, quero dizer que mais um prodígio está acon-tecendo comigo, estou começado a escrever poesias e contos.

Só havia escrito uma poesia em homenagem a Lisboa quando retor-nei de uma viagem a Portugal, mas como há tempo determinado por Deus para todas as coisas, tive a felicidade de encontrar na internet o site “Razão de Viver” e a partir daí nasceu em mim o desejo de escrever poesias, de todo coração agradeço a Rosimeire que está me dando este grande apoio.

Bom já falei muito, mas quero dizer ao leitor que Deus não de-sampara aqueles que o invocam com fé e temor no coração, tive-mos cinco filhos quatro moços e uma moça, e com todo sofri-mento encaminhamos os filhos para faculdades.

O Valeriano filho graduou-se em Medicina (Pediatra/intensivista) pela Universidade de Brasília e Hospital Universitário de Brasília.

O Cristiano bacharelou-se em Direito.

O Alexandre bacharelou-se em Artes visuais (Design Gráfico).

O Eliseu está no 5º Ano de Arquitetura (Se Deus quiser formará este ano) e a mais nova Elezir está cursando Normal Superior, três estu-daram e tocam violino e outro toca flauta, e eu estudei clarinete e saxofone.

Não posso deixar de relatar um testemunho para fortalecer e au-mentar ao leitor sua fé em Deus, e a certeza de que tudo é pos-sível para os que creem.

Meus dois filhos Cristiano e Eliseu possui uma anomalia genética são portadores de distrofia muscular progressiva, é uma doença gra-ve, os médicos diziam que eles não andariam, e em pouco tempo, perderiam todo movimento de seus membros, não iriam escrever, nem segurar qualquer objeto, e meu filho médico disse que em cada mil nascimentos pode acontecer de nascer um com distrofia, pois em minha casa nasceu dois.

Resumindo, o médico diz uma coisa mas Deus diz outra, (a distrofia evoluiu mas paralisou).

O Eliseu é artista plástico autodidata e está concluindo arqui-tetura e já faz plantas e maquetes eletrônicas, o Cristiano é for-mado em Direito, além de tocarem bem o violino, trabalham dia e noite com o computador e ainda exercem funções na igreja, um anda em cadeira de rodas outro locomove com dificuldades, mas são bonitos, alegres, inteligentes e comunicativos.

Detestam falar da vida alheia e temem a Deus.

Quem sabe o leitor espera algo que está difícil lembre que para o Senhor não há nada impossível muitas vezes nossa fé é pequena a ponto de duvidar do seu poder.

Antes de finalizar quero lhes contar uma pequena passagem parece que chocante: um dia o Cristiano estava assentado no chão quando ainda era pequeno e viu um gatinho na folhinha e disse a sua mãe: “Mãe, aquele gato caminha e eu não”.

A mãe chorou muito, mas eu cheguei a um estabelecimento co-mercial e vi um quadro com os seguintes dizeres (Se Deus deixou em sua casa uma criança diferente das outras é porque confiou em você).

Desde este dia passei mais a compreender o sentido da vida, ainda esta semana fiquei emocionado de ver meu filho Eliseu caminhando com dificuldade para o computador, mas ao seu lado estava dois de seus professores de arquitetura passando para meu filho um pro-jeto de um prédio para que ele desenvolvesse e seus professores irão concorrer em um concurso, mas a Maquete o Eliseu está fa-zendo (isto mesmo, aquele Eliseu que os médicos disseram que não iria nem segurar um lápis), isto é gratificante, muitos dissabores passei, mas nada melhor do que olhar para trás e poder dizer até aqui nos ajudou o Senhor.

Muitos não creem, mas eu acho que tudo que passamos é permissão do Senhor, mas ainda que você encontre a derrota, compensa lutar e dizer empreguei todas as minhas forças, fiz a minha parte, mas certamente o plano do Senhor era outro.

Encerrando este relato ainda digo coisas que eu jamais pensaria conseguir na vida como viajar me formar estudar meus filhos ter minha casa própria, meu carro, o Senhor fez para mim sem eu ter nenhum mérito, até mesmo viagens por vinte e três Estados de nosso país, além de Bolívia, Paraguai, Argentina, Chile, Portugal, Espanha, França, Grécia, Egito e Israel.

Valeriano Luiz da Silva
Anápolis - GO


 

 
Próxima Mensagens Menu Principal