O filho

Recebi em 10/11/2010


Um homem muito rico e seu filho tinham grande paixão pela arte.

Possuíam obras de grande valor na sua coleção, de Picasso a Rafael.

Sempre se sentavam juntos para admirar aquelas preciosidades.

Quando o conflito do Vietnam surgiu, o filho foi para a guerra e deixou o pai com o coração partido.

Durante uma batalha, enquanto resgatava um soldado ferido, o jovem foi morto. O pai recebeu a noticia e sofreu profundamente a morte do seu único filho.

Um mês mais tarde, alguém bateu na porta da sua casa. Um jovem com um enorme pacote nas mãos lhe falou: “O senhor não me conhece, mas sou o soldado pelo qual seu filho deu a vida. Ele salvou muitas vi-das naquele dia e estava levando-me a um lugar seguro quando uma bala o atingiu no peito e ele morreu na hora. Ele me falava sempre do senhor e do seu amor pela arte. E por isso eu gostaria que o senhor aceitasse um presente.

Entregou-lhe o pacote e disse com carinho: “Eu sei que isto não é mui-to pois não sou um grande artista, mas acredito que seu filho ia gostar se o senhor o recebesse”.

O pai abriu o pacote e surpreendeu-se com um retrato do seu filho amado. Ele contemplou, com profunda admiração, a maneira como o soldado tinha retratado a personalidade do seu filho na pintura.

Ficou tão atraído pela expressão dos olhos do seu filho que os seus próprios marejaram de lágrimas.

Agradeceu ao jovem soldado e ofereceu-se para pagar-lhe pelo qua-dro. “Oh, não senhor, falou o rapaz. Eu nunca poderia pagar-lhe pelo que seu filho fez por mim. É um presente”.

Aceite-o, juntamente com a minha gratidão.

O pai pendurou o quadro acima da lareira e cada vez que os visitantes e convidados chegavam a sua casa ele lhes mostrava o retrato do seu filho, antes de mostrar sua famosa galeria.

Aquele pai morreu alguns meses mais tarde e publicou-se um leilão pa-ra todas as pinturas que possuía. Muita gente importante e influente foi ao leilão com grandes expectativas.

Sobre a plataforma estava o retrato do seu filho. O leiloeiro bateu o seu martelo para dar início e falou: “começaremos o leilão com este retrato do seu filho. Quem vai fazer a primeira oferta por este quadro?

Se fez um grande silencio. Então uma voz, no fundo do salão, gritou: “queremos ver as pinturas famosas! Esqueça-se desse!”.

No entanto o leiloeiro insistiu: alguém oferece algo por esta pintura? Cem mil dólares? Duzentos mil dólares?

Outra voz gritou com raiva: “não viemos aqui por essa pintura! Viemos para ver as de Van Gogh, Rembrant, Rafael, Picasso... Vamos às ofer-tas de verdade!

Ainda assim, o leiloeiro continuava seu trabalho. “O filho, O filho, quem vai levar o filho?!

Finalmente, uma voz vinda dos fundos se fez ouvir: “eu dou dez dóla-res pela pintura!

Era o velho jardineiro do pai e do filho. Sendo muito pobre, era o úni-co que poderia oferecer.

Temos dez dólares, quem dá vinte?” Gritou o leiloeiro.

Outro grito se ouviu ao fundo: mostra-nos de uma vez as obras de ar-te!

Uma vez mais o leiloeiro insistiu: “dez dólares pela oferta! Dará al-guém vinte?

A multidão já estava inquieta. Ninguém queria o retrato do filho e sim as que representavam valioso investimento para suas próprias cole-ções.

Por fim, o leiloeiro bateu o martelo e falou: “dou-lhe uma, dou-lhe duas... Vendida por dez dólares!”.

O homem que estava sentado na segunda fila gritou feliz: “até que en-fim começaremos com a coleção!”.

O leiloeiro soltou o martelo e disse: “sinto muito damas e cavalheiros, mas o leilão chegou ao fim.

Mas, onde estão as pinturas?” - Perguntaram assustados.

Sinto muito”, falou o leiloeiro. “Quando me chamaram para dirigir es-te leilão, foi-me falado de uma condição estipulada no testamento do dono da coleção. Eu não estava autorizado a revelar até este momen-to, mas agora posso falar. Somente a pintura do filho seria leiloada. Aquele que a adquirisse herdaria absolutamente todos os bens do fale-cido, incluindo sua coleção de obras de arte.

Assim, o homem que ficou com o retrato do filho herdou tudo.

Pense nisso!

Não há bem que possa valer mais do que um filho.

Um verdadeiro afeto se constitui num dos mais valiosos e duradouros patrimônios da alma.

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