A história daquele jovem de 18 anos, não é diferente das
histórias de
muitos jovens pobres dessa idade, em nosso país e nos
demais países subdesenvolvidos.
Ele estava ali, contra o muro, ao lado do carro roubado, em frente às
câmeras e ao repórter que fazia a matéria para levar ao ar num desses programas de TV que exploram as misérias humanas.
O jovem estava vestido com visível pobreza. Camiseta, bermuda e “chinelo de
dedo”.
Em pé, com as costas no muro, ele apertava as pálpebras para evitar
que as lágrimas caíssem, mas elas brotavam, teimosas, e rolavam pelo seu rosto amedrontado, apavorado, indefeso.
Ele não havia roubado o carro, era apenas o entregador.
Perseguido pela polícia, na curva de um viaduto ele perdeu a dire-ção do
veículo e se chocou contra a murada.
Agora estava ali, com as mãos algemadas e rodeado por policiais e pelos repórteres.
O outro garoto que estava com ele no carro no momento do aciden-te
não era focalizado, já que era menor de idade.
O repórter, que sabia parte da história, perguntou ao jovem, dese-jando saber mais sobre o assunto: “Sabemos que você não rou-bou esse veículo,
mas poderia dizer para onde iria levá-lo?”
E a resposta do jovem: “Nóis não sabe. Nóis tava levando o carro e alguém ia informá pra nóis o que era pra fazê.”
Não havia dúvida...
Estava ali a prova da nossa falência, como sociedade, dita civiliza-da.
Todos nós, brasileiros, somos responsáveis pelo que aconteceu com aquele jovem e com os demais jovens e crianças do nosso país.
Sim, ele, como os demais, é um dos filhos da nossa pátria, e, por-tanto, responsabilidade nossa.
Quando não se constroem escolas, é preciso construir presídios para
segregar os delinquentes, que não tiveram acesso às letras.
Sem dúvida que o acesso à escola não é garantia de honestidade, e disso temos provas diariamente.
No entanto, a falta de escola tem sido a grande responsável pela
delinquência de nossas crianças, adolescentes e jovens.
E esse era o caso daquele garoto, que ainda trazia no rosto o sem-blante da inocência, da fragilidade, da insegurança, do abandono social.
Não havia dúvida de que era fruto da miséria, filho de pais que também não
tiveram acesso à escola, ou talvez nem tivesse pais.
Pelas necessidades que portava, foi usado por alguma quadrilha de ladrões de carros.
Para ganhar alguns trocados e sobreviver, arriscava a própria vida.
Talvez você esteja se perguntando: “E o que eu tenho a ver com is-so?
Isso é problema dos governantes.”
Mas a própria consciência lhe pergunta: “E se fosse seu filho, seu ir-mão, seu neto, seu sobrinho?”
É preciso, não há dúvida, socorrer a infância, construir escolas, cri-ar
condições de acesso das crianças ao estudo, à alimentação, à mo-radia, à segurança.
Ou, então, não restará outra opção a não ser construir presídios e mais presídios...
E vale considerar que os custos de manutenção de um detento, em
nosso país, é muito, mas muito maior do que os custos de um aluno na escola.
Além disso, o cárcere tem outros tantos prejuízos para o indivíduo e
para a sociedade, que não deixa dúvida que a escola é a melhor e mais barata
das alternativas.
E a decisão, como sempre, é nossa.