Po-e-mar - Sylvia Cohin

vi o desenho na espuma
do vulto de uma sereia
fazendo verso na areia
de um poema que se esfuma
na fúria da maré cheia.

vi o mar enfurecido
a fustigar o rochedo;
entre as fendas do penedo,
vi um búzio recolhido
na concha com seu segredo...

vi meu barco impetuoso
enfrentando com braveza
o açoite da correnteza,
oscilante, mas teimoso,
a vencer sua proeza...

vi prantos boiando n'água
e o mar engolir sedento
os gemidos de um lamento
molhando a franja da anágua
que reveste o pensamento.

vi o sonho flutuante
no horizonte condensado.
um farol iluminado,
um apelo embriagante,
ao barqueiro extenuado.

vi também um pescador...
navegava alheio ao mar
entregue ao árduo labor
e a Netuno protetor,
ensimesmado, a remar

Sylvia Cohin
Porto - 04/11/2007

Meu-o-Mar - Gui Oliva

meu o mar se apresenta
fugidio e arrogante
desatento e petulante
nem o sol mais o esquenta
insiste em maré vazante.

meu o mar só faz marola,
não explode mais na praia,
vai e vem só de tocaia
com onda a cantar parola,
paralisa minha catraia...

meu o mar secou luar
e a lua envergonhada
retirou-se acanhada
não podendo mergulhar
disse adeus encabulada

meu o mar espantou dunas
lágrimas que são chorosas
ventos de areias penosas
a espraiarem em brumas
suas águas dolorosas

meu o mar já desbotou
perdeu o verde, o azul anil
descoloriu tom pueril
toda sua cor naufragou
assim, de mim, partiu sutil.

Gui Oliva
Santos - SP - 13/11/2007




Fundo Musical:
Em Algum Lugar Do Passado - Diógenes Oliveira
 
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