vi o desenho na espuma do vulto de uma sereia fazendo verso na areia de um poema que se esfuma na fúria da maré cheia. vi o mar enfurecido a fustigar o rochedo; entre as fendas do penedo, vi um búzio recolhido na concha com seu segredo... vi meu barco impetuoso enfrentando com braveza o açoite da correnteza, oscilante, mas teimoso, a vencer sua proeza... vi prantos boiando n'água e o mar engolir sedento os gemidos de um lamento molhando a franja da anágua que reveste o pensamento. vi o sonho flutuante no horizonte condensado. um farol iluminado, um apelo embriagante, ao barqueiro extenuado. vi também um pescador... navegava alheio ao mar entregue ao árduo labor e a Netuno protetor, ensimesmado, a remar Sylvia Cohin Porto - 04/11/2007 meu o mar se apresenta fugidio e arrogante desatento e petulante nem o sol mais o esquenta insiste em maré vazante. meu o mar só faz marola, não explode mais na praia, vai e vem só de tocaia com onda a cantar parola, paralisa minha catraia... meu o mar secou luar e a lua envergonhada retirou-se acanhada não podendo mergulhar disse adeus encabulada meu o mar espantou dunas lágrimas que são chorosas ventos de areias penosas a espraiarem em brumas suas águas dolorosas meu o mar já desbotou perdeu o verde, o azul anil descoloriu tom pueril toda sua cor naufragou assim, de mim, partiu sutil. Gui Oliva Santos - SP - 13/11/2007 Fundo Musical: Em Algum Lugar Do Passado - Diógenes Oliveira
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