Dueto: Monet de mim


 

Monet de mim - Denise Severgnini

Diante da tela nua
Meus olhos passeiam
Nas fibras brancas do algodão.

Que magia tem minha mão,
Ao empunhar um pincel
Manchado de tinta
Que transforma o gélido branco
Em lindas paisagens...
Ou noite estreladas...
Talvez encantadores jardins...

Um quadro sereno
Que vai se desenhando
Toque a toque...
Cor a cor...
Forma a forma...

Primeiro um esboço
Talvez, um estudo no papel...

Que cor usar?
Um tom pastel?
A intensidade do vermelho?
A plenitude do azul?

Uma pincelada lá.
Uma cá... Acolá...
Nasce um borrão
Uma mancha maior

A mão passeia
Atada em liames ao pincel
É uma conjunção tão perfeita
Tal qual lápis e papel

O quadro emerge da tela
Antes imaculada como corpo da Virgem.

Os pigmentos dançam
A sinfonia das cores
Eles harmonizam-se em compassos visuais.

Manifesta-se a minha alma
Que navegou por meus dedos
E depositou-se no quadro
Que acabo de pintar.

Denise Severgnini
Novo Hamburgo - RS - Brasil

Poema - Quadro - Ilona Bastos

Do traçado breve
desenhando um vulto sentado à janela
liberta-se não sei que estranha calma,
que suave paz.

São as mãos esguias
pousadas sobre os joelhos.
São os olhos plenos de paisagens
lançados além vidros.
É o recostar no espaldar de uma cadeira
numa imobilidade que não fere as dimensões
nem o silêncio, e em si se afirma ser.

Eloquente, a vida existe
impregnada nas rectas de um tampo de madeira
que é mesa e paleta,
no esboço de um cilindro
que é caneta e pincel,
no brilho de uma janela
que é papel e tela
onde se compõe um poema-quadro.

Ilona Bastos
Lisboa - Portugal



Fundo Musical: Starry, Starry Night (Vincent) - Don McLean

 
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