Às vezes é um homem de longa barba branca, porém
embaçada, e sem
nenhum tratamento, vestido de uma roupa suja bem surrada, quando
ganha
um velho sapato, botina ou sandália ele calça, quando não tem o
que calçar, descalço prossegue sua árdua jor-nada, sem destino certo,
sem leme, sem remo, sem
rumo.
Tem vezes que veste um imundo paletó, é comum com o sol quente ele
passar pela gente vestido com este paletó, usa um velho cha-péu que
encontrou jogado no lixo.
Carrega um saco sujo, onde nas sua falta
de juízo, tem lá: umas parcas moedas, uma calça e uma camisa suja,
uma sebosa cueca e um para de meias, e tudo que ele ganha nas
andanças desde sabão, mandioca, bolo, rapadura, fósforo, toucinho
ele coloca junto no saco.
Carrega sempre uma latinha vazia de marrom glacê, uma colher,
um
canivete, verdadeira relíquia e quando pode para a beira da
estrada ou num jardim da praça e pega umas pedras e uns gra-vetos e
prepara um delicioso cosido, mistura tudo que deve ou não, de tanto sofrer, sua mente não
é normal.
Mistura tudo que ganhou e saboreia sua comida, às vezes
sem óleo, sem
sal ou quando a mente está atacada coloca açúcar no
arroz.
Ele
não paga nenhum imposto, se sente livre de votar, não tem entendimento para ir à igreja orar, não tem nenhuma
ideologia política, não paga água nem energia.
Não tem carro pra pagar IPVA e nem para o guarda
multar.
Deita a hora que quiser e levanta quando dá vontade, não está sujeito
ao relógio, não tem hora pra comer, aliás, tem dia que nem come.
Não tem
despesa com creme dental, dental, com sabão, com o cabeleireiro, com
manicuro,
com pedicuro, com médico nem dentista.
Os
que têm um amigo vira-lata em sua companhia não gastam com veterinário, nem tem que pagar taxa no Centro de Zoonose para tirar
o cãozinho, pois seu cão não anda sozinho, o viandante não paga
imposto territorial
ou predial, nem taxas de melho-ria, também como pagar imposto se não tem
bens de raízes, ou melhor, não tem nada na vida a
não ser a riqueza que carrega no imundo saco nas costas.
Não se preocupa com o leão, pagar imposto de renda de que?
Se
não
sabe o que é isto...
Não recolhe INSS, não tem previdência privada,
nem paga
fune-rária.
Não sabe o que é aposentadoria, e se morrer no mato lá
ficará até
que alguém o possa encontrá-lo, se morrer na cidade grande é
mais um presente para os alunos do primeiro ano de Medicina
onde um cadáver vale ouro
na aula de anatomia e se não prestar para o
estudo de anatomia, quem sabe o
Estado assume um pomposo en-terro sem cortejo, sem
discurso
e como indigente.
Sabe, depois de morto não dará trabalho pra ninguém, seus her-deiros
não pagarão imposto causa-mortis para a fazenda Pública, nem
honorário para advogado fazer inventário dos bens do de cusus, pois
como pobre e miserável, nesta hora ninguém quer ser seu parente, se
nada deixou, ninguém vai gastar e nem brigar após sua morte.
Quantos quilômetros diários ele andou?
Quantos pratos de comi-da alguém lhe negou?
Quanta sede ele passou? Quanto frio ele enfrentou? Aliás,
será onde dormiu?
Com que ele cobriu?
Se você
vir um andarilho, peça para
ele lhe mostrar a planta dos pés, veja os buracos e as pedras
que entram nos
seus pés, estou falando porque um ex-andarilho dormiu em
minha casa e mesmo que há muitos anos se libertou desta vida, mas as
marcas do sofrimento
estavam em seus pés, ele tirou o calçado e eu e minha família vimos os buracos,
coisa horrível.
Não podemos esquecer que muitos andarilhos, já tiveram esposas e filhos, empregos, quem sabe
bom estudo, mas alguns perderam a memória
quando morreu um ente querido, outros perderam a memória, quando
ficaram desempregados, há muitos que tão logo perdeu o emprego a
família o abandonou e ele deixou seu lar para viver perambulando.
Então a vida é uma
roda gigante, e cheia de mutações.
Se pudermos vamos dar as
mãos a este ser
humano que vive so-frendo, sem teto, sem endereço, sem
saber onde está a
família, sem saber que fim será sua vida...
"Aquele, pois, que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado".
(Epístola de São Tiago 4:17)
Valeriano Luiz da Silva
Anápolis
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04/08/04 – 02:26 hs
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